Um dos assuntos mais delicados do movimento ambiental é população. O argumento é o seguinte: mudanças climáticas, extinções de espécies, colapso dos ecossistemas, caos ambiental são apenas sintomas. A doença é uma só: há demais de nós. Há uma infestação de humanos na Terra e é isso a causa de todo o resto dos problemas. Éramos 2 bilhões em 1927, seremos 7 bilhões em 2012. Nesse ritmo, é óbvio que o planeta não dá conta.
Fote: As barras de cor sólida são números reais, as listradas são projeções.
Esse assunto é delicado por razões históricas e emocionais.
Históricas: falar de superpopulação faz lembrar das campanhas eugênicas de esterilização forçada e de eutanásia dos nazistas. Da ideia de que vidas “que não valem a pena ser vividas” devem ser exterminadas. Faz lembrar que é hábito de ditaduras controlar o ritmo de crescimento da população.
Emocionais: a ideia central do ambientalismo é tentar poupar o planeta para as gerações futuras. É não consumir tudo agora, para que nossos filhos e netos possam saber o que é uma onça, uma baleia, uma praia, um outono. Se começarmos a dizer que não temos que ter filhos ou netos, a coisa começa a perder o sentido. Por isso, nenhuma organização ambiental importante defende que as pessoas deixem de ter filhos: eles não querem afastar sua audiência mais importante, os pais preocupados.
Hoje me deparei com uma entrevista inteligente com um químico alemão chamado Michael Braungart, professor da Universidade Erasmus de Rotterdam. Braungart teve a coragem de enfrentar esse assunto delicado. Olha o que ele disse:
“A biomassa das formigas é quatro vezes maior que a dos humanos. E, como elas trabalham mais duro do que nós, o seu consumo de calorias equivale ao de uma população de 30 bilhões de humanos. Mas elas não são um problema para o ambiente.”
Ou seja, mesmo com uma população imensa, é possível não destruir recursos finitos. Achei chocante pensar que, se você colocar a população mundial de formigas numa balança, ela vai pesar o quádruplo da população humana, e que seu consumo de energia para viver é quase o quíntuplo do nosso. Mas isso, obviamente, não resolve nosso problema. Nós produzimos esgoto, emitimos carbono, queimamos a mata e espalhamos sacos plásticos e latinhas de cerveja por onde passamos – elas não.
Mas, no mínimo, Braungart faz a gente pensar. A explosão populacional humana certamente é parte do problema – simplesmente não haverá recursos para todo mundo se continuarmos nos comportando como quando éramos 1 bilhão de pessoas. Mas isso não quer dizer que a única solução possível para nós seja reduzir a população. Há uma outra: reduzir drasticamente o impacto negativo que cada um de nós causa. De preferência, reduzir a zero, de forma que o aumento da população deixe de ser um problema.
Braungart é pesquisador do Instituto Holandês de Pesquisa para Transições (Drift, na sigla holandesa). O papel do Drift é imaginar um design para uma nova era. No futuro imaginado por eles, os produtos não consomem recursos da Terra, nem um pouquinho. Tudo aquilo que não consumimos é reaproveitado, compostado, reciclado. Tudo é eficiente, não se joga fora nem energia. Tudo é feito para durar.
Mais ou menos como as formigas fazem.
A boa notícia é que a explosão populacional está diminuindo de ritmo. As projeções indicam que a população pode se estabilizar lá pelo fim do século. Ou seja: se conseguirmos fazer a tal transição para um modelo de baixo impacto, não estaremos apenas adiando problemas inevitáveis. Estaremos efetivamente no rumo de um futuro sustentável.
Por Denis Russo Burgierman