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MULHERES DE EMIGRANTES SOFREM TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS
Daniel Antunes - Estado de Minas, segunda-feira, 27 de julho de 2009
MULHERES DE EMIGRANTES SOFREM TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS

Governador Valadares - Foi na igreja católica do Bairro Altinópolis, na periferia de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, que a estudante L.S.O., de 26 anos, buscou conforto para amenizar a saudade do marido, que em 2005 foi para a Flórida (EUA) em busca de uma vida financeira melhor para a família. Os dias, os meses e os anos seguintes à separação do companheiro foram traumáticos e revelaram uma mulher frágil, atormentada pela saudade e pelo desânimo de continuar vivendo. “Parecia que estava vegetando dentro de casa. Eu me sentia sem vontade até de cuidar do nosso filho, que na época tinha 1 ano e seis meses” lembra L.S.O. Apesar da saudade, conseguiu reunir forças para criar o menino.


J.R.A., de 30 anos, longe do companheiro há cinco anos, se anulou e recorreu a remédios para inibir a sexualidade (foto)


A história de L.S.O. se confunde com a de milhares de mulheres do Vale do Rio Doce, obrigadas a viver longe dos companheiros, que embarcaram para os Estados Unidos em busca de trabalho, e lembra a resistência de Penélope, personagem da mitologia grega, que, durante 20 anos, esperou pelo marido, Ulisses, empenhado na Guerra de Troia. Penélope teve de recorrer a vários artifícios para afastar os pretendentes, que insistiam em pedi-la em casamento na ausência do amado guerreiro, que, depois de 10 anos lutando contra os troianos, demorou mais 10 para chegar em casa.

Leia também:  Mulheres buscam alternativa para viver sem sexo

A conhecida emigração de valadarenses para o exterior, que começou nos anos 1980 e ganhou força na década passada, a cada dia desperta a atenção da mídia e de pesquisadores. O mais recente estudo sobre o assunto revela o perfil das mulheres dos emigrantes. Feito por uma equipe de psicólogos da Universidade Vale do Rio Doce (Univale), foi intitulado Impactos do isolamento conjugal sobre a sexualidade da mulher do emigrado. O objetivo da pesquisa, realizada entre 2004 e 2008, foi analisar como elas vivem longe dos maridos. O resultado mostra que, diante da impossibilidade de conseguir de forma adequada o prazer sexual, elas desenvolvem problemas emocionais e grande número delas encontra dificuldade até para manter o equilíbrio psíquico.

Cerca de 250 mulheres foram entrevistadas. Grande parte tinha, em média, 34 anos e cerca de 10 anos de vida conjugal, foi identificada pelos psicólogos em palestras feitas em escolas das redes municipal, estadual e privadas de Governador Valadares, que tinham como tema “Dicas para a educação dos filhos que têm o pai no exterior”. Algumas foram selecionadas para participar da pesquisa por indicação da própria instituição de ensino. A maioria, 86,2%, das entrevistadas, cuja separação passa de dois anos, pode ter tanto o equilíbrio psicológico quanto a qualidade do relacionamento conjugal afetados pelo isolamento. “Percebemos que a felicidade que o marido prometeu quando decidiu tentar a sorte nos EUA não ocorreu. Aparentemente, a vida pode ter melhorado com a aquisição, em vários casos, de casa maior e carro, mas dentro do lar as mulheres afirmam ser infelizes”, comenta a psicóloga Agnes Rocha de Almeida.

Segundo o estudo, a depressão e a ansiedade são dois dos principais problemas das mulheres dos emigrantes, pelo fato de não poderem dar vazão à sexualidade e por falta de um companheiro no dia a dia. No que se refere às características psicológicas, a percepção que elas têm de si mesmas é, de fato, negativa. Em 80,4%, a resposta obtida foi desgaste emocional. Tristeza, ansiedade, irritação e impaciência revelam o lado obscuro da emigração. No tocante às características físicas, as respostas mostram que apenas 26,4% têm percepção das mudanças.

Descontrole

Um dado apurado pela pesquisa mostra claramente os efeitos nocivos causados pela separação. A maioria se acha mais triste (18,8%) e outras mais ansiosas (18,2%). Algumas ficaram mais irritadas (15,4%); mais impacientes (13,9%), mais feia e gorda (13,8%), outras mais bonitas e magras (12,06%). Apenas 7,3% se acham mais livres e felizes. “Acho que nem a separação por vias legais dói tanto quanto a distância do marido. Sinto-me uma verdadeira viúva de marido vivo. Isso já me levou ao descontrole total, a ponto de, por motivo banal, brigar com toda a família”, diz a doméstica M.O.S., de 30, cujo marido está há sete anos em Newark, no estado americano de Nova Jersey, trabalhando na cozinha de um restaurante. “Ele liga pelo menos uma vez por dia, mas essa situação é horrível. Não sei como isso vai acabar”, lamenta.

Para a psicóloga, quando o marido sai de casa em busca de vida melhor no exterior, a mulher percebe que o ciclo de amizades diminui com o passar do tempo. Algumas evitam sair de casa para que sua dignidade não seja ferida. “Antes, essa mulher saía com o marido à noite, na companhia de outros casais. Agora, já não o faz com medo de comentários maldosos. Para suprir essa necessidade de atenção, a igreja ganhou papel importante na vida delas. É lá que elas se sentem longe de comentários e recebem apoio e carinho”, conclui.


 

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