De todas as bebidas consumidas no mundo, a água engarrafada é a que mais cresce. E o Brasil já é o quarto maior mercado consumidor, ficando atrás apenas de Estados Unidos, México e China. Segundo dados da Associação Internacional de Águas Engarrafadas, a demanda brasileira cresce mais de 7% ao ano. O que poderia ser uma boa notícia, pois mostra que este tipo de indústria está crescendo, é um sinal de alerta. Ativistas apontam que o custo ambiental desse crescimento é alto e um dos problemas é a exploração dos lençóis freáticos, considerada degradante.
Consumo de água engarrafada cresce e o porcentual da população mundial também.
Um estudo do Instituto Worldwatch (uma das maiores organizações internacionais voltadas para a pesquisa do ecossistema) faz outro alerta: o consumo crescente de água engarrafada enquanto o porcentual da população mundial sem acesso a nenhuma fonte continua aumentando. O estudo aponta que entre 35% e 50% dos moradores de cidades na África e na Ásia não têm acesso à água potável e mais de 1 bilhão de pessoas são carentes de água e não têm renda para comprá-la engarrafada.
Segundo o instituto, a água engarrafada custa até 10 mil vezes mais do que a de torneira. Por metro cúbico, a água engarrafada estaria sendo vendida a US$ 1 mil. Em alguns estados norte-americanos, o metro cúbico de água de torneira potável não custa mais de US$ 0,50. A Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que 1,1 bilhão de pessoas em todo o mundo não tenha acesso à água potável. E esse número pode chegar a cinco bilhões até 2025.
Fácil acesso - O consumo de água mineral engarrafada muitas vezes está associado a bons hábitos de saúde, seja por exercer o papel de hidratação com um líquido tido como sem impurezas ou calorias, seja porque quem a consome passa a imagem de ser alguém que pratica exercícios físicos ou é ativo em seu cotidiano. Além disso, o clima mais quente acaba por aumentar o consumo de água mineral, principalmente se considerarmos que ela deixou de ser um produto típico das classes com maior poder aquisitivo. Isso porque seu preço é relativamente acessível a todos (em torno de R$ 1,00).
Mas independentemente da acessibilidade, esse hábito deveria ser diminuído, pois o planeta passa por sérios problemas ambientais, sendo a escassez de água um deles (e dos mais sérios). Mas você pode estar se perguntando: mas o Brasil não é farto neste líquido? Sim, mas precisamos lembrar que esse líquido vital provém de lençóis freáticos, muitas vezes comprometidos pela poluição do solo e de rios e pela extração desenfreada de empresas de água mineral.
Francisco Carlos Fernandes é gerente industrial de uma empresa de água mineral. Segundo ele, a água, que provém da Serra da Mantiqueira, é extraída de poços semi-artesianos, revestidos de tubulações de aço inoxidável, controlados automaticamente. "A nossa água está presente no mercado de São Paulo, Amazônia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Brasília, Pernambuco e Bahia, e atende principalmente as casas de público A e B." Mas sempre haverá água a ser retirada? "A extração é feita de forma controlada, preservando as fontes", afirma.
Em 1995 foram engarrafados 1,553 bilhão de litros de água mineral. E este número só cresceu. Em 2002 foram 4,7 bilhões. Em 2006, 6,2 bilhões. E em 2007, 6,8 bilhões de litros. Outra empresa, localizada na Serra da Mantiqueira, na cidade de Campos do Jordão, numa região de preservação ambiental, possui quatro fontes, sendo que duas são exploradas para engarrafamento. As outras duas estão "in natura", ou seja, ainda não são exploradas. O lençol freático fica a aproximadamente 400 metros de profundidade. De acordo com a empresa, a água chega à superfície naturalmente, sendo transportada por tubulações de inox até as linhas de envase. Quanto à quantidade de litros extraídos por dia, a empresa disse que não fornece números sobre sua atividade. Sobre a possibilidade dessas fontes secarem, a empresa informou que isso não tende a ocorrer, pois o índice de recarga de aqüífero é muito grande.
TERESA ORRÚ
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