Você quer ser multado, preso ou "reeducado" se for denunciado por repreender o seu filho pela sua birra no supermercado ou shopping center?
Com a reportagem levada ao ar na noite de domingo, dia 18/07/2010, mais uma vez a Rede Globo dá aquela forcinha para as intenções do governo, desta vez para subtrair mais uma fatia do pátrio-poder dos pais e mães.
Para isto, utiliza-se dos requintes dos recursos da comunicação, de tal forma a repassar uma opinião pré-formada como se fosse uma isenta polêmica. Dona Rede Globo, por favor, depois não me venha reclamar do governo que lhe quer impor a censura e cortar contratos de publicidade, ok? Só para lembrar, na Venezuela não existe mais este negócio de tevê livre.
No Brasil, as pessoas estão de tal forma entregues ao discurso cínico e dissimulado que mal conseguem distinguir o objeto do debate. Eis o objetivo cumprido.
Para o leitor mais desatento entender como se produz uma opinião deveras tendenciosa, assaz melíflua, perceba como, no decorrer do programa, várias chamadas foram feitas para convidar o telespectador a um debate ou polêmica, que, na verdade, inexiste.
Do lado dos que se colocam a favor da palmada, a reportagem mostra apenas um único homem, na condição de cidadão comum, a afirmar que uma palmadinha, de leve, sem significar espancamento, não faz mal. As duas outras pessoas que ilustram o lado dos pais que “dão palmadinhas” já são de antemão tratadas na matéria como vilãs da reportagem e uma delas já se confessa criminosa: “Hoje, se ela tiver um filho e quiser dar palmadas, eu não vou deixar”, garante Leidice Cabral, mãe da jovem.
Já para o lado dos favoráveis à lei, a reportagem dá ampla voz a toda sorte de “especialistas”: ouve um conselheiro tutelar, a subsecretária nacional de direitos da criança e do adolescente e uma psicóloga.
Quem acompanhou a campanha do plebiscito sobre a proibição do comércio das armas de fogo — aquela em que cerca de 70% da população se manifestou contrária à proibição — teve a chance de perceber que o lado vencedor — talvez pela primeira vez em nossa história — logrou-se bem-sucedido tão somente por apontar a falácia do discurso governista e dizer ao público exatamente o que ele precisava ouvir, isto é, se você, como cidadão, aceitaria abrir mão de se auto-defender, caso achasse necessário.
Portanto, ser ou não contra a palmada, o puxão de orelhas ou o beliscão, está a léguas de distância do verdadeiro debate sobre o assunto, que a reportagem do fantástico fez questão de camuflar, apenas tangenciando, e mesmo assim de uma forma absolutamente pró-governo, para não parecer que completamente “se esqueceu”: “A criança acha que meu pai pode me bater, porque é meu pai e tem o direito. Não tem o direito de bater”, aponta o conselheiro tutelar Heber Boscoli.
Eu quero perguntar a você, leitor, que responda com honestidade: você acha certo trocar a educação que você quer dar ao seu filho pela educação do governo? Você quer ser multado, preso ou “reeducado” se for denunciado por repreender o seu filho pela sua birra no supermercado ou shopping center?
Só para lembrar, veja este trecho da reportagem: “Pelo projeto, atitudes para punir ou disciplinar não podem machucar nem causar nenhum tipo de dor. Crianças e adolescentes também não podem ser humilhados nem ameaçados”. Isto significa que, se um estranho - qualquer pessoa — achar que você está “ameaçando” ou “humilhando”, você poderá ser denunciado. Então pergunto: você aceita que o seu juízo seja trocado por qualquer pessoa, mesmo que seja um agente da lei?
Agora, perceba a sutileza da Sra. Carmen Oliveira, subsecretária nacional de Direitos da Criança e do Adolescente: “A nossa preocupação é com palmadas reiteradas ou a palmada que vai à surra e que vai ao espancamento, que vai agravando a conduta de violência”. Ué, o projeto diz que é proibido qualquer beliscão ou palmadinha, e mesmo a mera ameaça (ameaça do quê?) ou humilhação (repreender em público é humilhar?), ou tipifica a conduta apenas contra as reiteradas palmadas ou a palmada que vai à surra e ao espancamento? Observe como o governo quer — mais uma vez — vender gato por lebre.
Constate como anda o respeito, a responsabilidade, o estudo e a disciplina nas escolas públicas! por acaso, lá estão faltando os “educadores”? Ora, em nenhuma instituição há uma rede tão ampla de pedagogos, psicólogos, mestres e doutores, desde os que criam as tais diretrizes, nas cadeiras mais altas dos ministérios e secretarias estaduais e municipais, até os professores encarregados de multiplicar seus métodos.
Caro leitor, se você acha que a educação que o governo pretende impor ao seu filho é moralmente mais valiosa e acertada que a sua, pare de sofrer: jogue sua ninhada na Febem e vá curtir a sua vida! Ficar cultivando cãs, pra quê?