Prezado Osmar, recebi este comentário de uma brasileira que está na Austrália e peço se possível divulga-lo para que analisemos a diferença cultural do Brasil com a Austrália. A propósito a Austrália foi colonizada pelos ingleses, assim poderemos avaliar melhor nossos colonizadores.
Comentário de uma brasileira na Austrália.
Brisbaine, Austrália
Estou em Brisbane, na Austrália, e absolutamente chocada com o contraste do que vivo no Brasil. Eu me pergunto como conseguimos naturalizar tanta coisa ruim. Vou escrever minhas impressões de viagem e aproveitar esse e-mail para começar a esboça-las no tecladinho chato e impreciso do IPad.
Não há lixo no chão de ruas muito movimentadas.
Não há policiais circulando armados porque não são necessários.
Não há guardas ou maluquinhos pagos pela prefeitura orientando o trânsito porque todos os sinais são inteligentes e a sinalização claríssima.
Ninguém buzina.
Não vi engarrafamentos.
Respeitam pedestres, eles tem prioridade sobre os carros. E os pedestres respeitam os carros porque os sinais param por acionamento do pedestre, os motoristas não invadem as faixas de travessia, os sinais para os pedestres são luminosos e sonoros para os cegos ou distraídos como eu, e para os motoristas tem indicação do tempo que vai levar a mudança de sinal.
Há ciclovias superprotegidas e sinalizadas e bikes para alugar em vários pontos da cidade. E os ciclistas andam com todos os itens de proteção. Não e incrível?
Não ha tantas motos, pois o transito flui e o transporte público dispensa o uso excessivo de carros particulares e de motos alucinadas para furar a barreira do trânsito.
Na enorme maioria dos casos os vendedores são gentis, educados, colaborativos, prestam atenção quando você fala, te orientam. E muitos deles te atendem até com muito bom humor, mesmo no fim do expediente. E te mandam para a loja do concorrente escrevendo endereço e ate fazendo mapinha quando você não encontra o produto que quer na loja dele…
Se acidentalmente dão um leve esbarro em você na rua, pedem desculpas.
A arquitetura como um todo é harmônica, principalmente o convívio do antigo com o moderno – e feita de modo elegante, pois para isso tem a universidade de arquitetura que deve ensinar toda arte e técnica que nos foi legada dos egípcios, gregos, romanos e de outras centenas de culturas civilizatórias. E tem mais algum poder público para dizer o que pode e o que não pode ser ocupado e como deve ser.
Não falam alto ou berram em bares, lojas, restaurantes. Vi duas pessoas fazendo compra numa loja e falando altíssimo uma com a outra, pior, mal dos produtos e em frente à vendedora. Pelo sotaque, paulistas do interior, gente que invade o primeiro mundo para comprar de forma descontrolada, que vergonha! Mas, claro que ha os brasileiros discretos e elegantes. Mas é divertido tentar descobrir quem e brasileiro pelo comportamento…
São multiculturais e há uma variedade bonita de cores de peles, tipos de olhos, línguas e sotaques. Mas ninguém pede esmola ou dorme pelas ruas. E não vi gente drogada, zumbizando por aí. A TV mostra a policia marítima apreendendo um barco cheio de pretensos imigrantes. Coitados! Mas eu também, se pudesse, queria viver numa sociedade assim.
Quando você entra numa loja não é imediatamente encarada como alguém que vai entrar com o intuito de roubar e não precisa deixar a bolsa no guarda volumes como já vi rede de drogarias fazer na Argentina. Ou seja, adotam o princípio e de que o cliente não é ladrão. Por que a gente continua ai entrando em lugares que nos tratam como tal?
As pessoas leem muito e leem livros… Leem no avião, no trem e ate andando na rua. Uma jovem asiática quase deu um encontrão em mim na calcada porque caminhava com a cabeça enfurnada no 1q84 do Murakami. Sorte dela que eu desviei pois estava de olho naquele comportamento bizarro e querendo saber que livro era assim tão bom de ler. Quem já leu diz que realmente e ótimo.
Ha uma branda restrição ao consumo de álcool. Por exemplo, lojas de conveniência não o vendem porque certamente são frequentadas por menores de 18.
As regras são claras a afixadas. Vou te mostrar uma foto do cartaz colado no bar em que tomei um chope em que, alias, havia 10 tipos muito diferentes deles. La fica estabelecido a área que pode ocupar, o que pode vender, o horário, os dias da semana em que deve funcionar, a restrição a não vender álcool para menores e outros detalhes mais. E não há indicação de ligar para algum departamento de estado para denunciar abuso de preço. Livre mercado, não é? Vende mais quem vende mais barato e com melhor qualidade. Simples assim.
Os hotéis são absurdamente silenciosos e as normas sobre silêncio estão fixadas em todos os cantos. Esclarecem que infratores são punidos. E devem ser mesmo.
Tudo isso tem a ver com muita coisa. O conceito de indivíduo, o valor do outro, o modo como construíram suas instituições políticas e democráticas e como encaram o mercado e suas relações de troca, a crença nas leis e justiça que foram feitas para melhorar a vida social, não para dificulta-la ou inviabiliza-la.
Deviam criar uma “Bolsa Conheça o Primeiro Mundo”. Todo brasileiro, ao completar tal idade devia permanecer três meses em algum pais civilizado e depois voltar e escrever uma autocrítica de sua própria sociedade. Claro que, depois teria que, ao longo de um determinado tempo, reembolsar o valor gasto pelo Programa, para permitir que outros façam a mesma viagem ao mundo que deveríamos construir para nele habitar.
Beth Oliveira
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