A disputa estava acirrada. Técnicos e torcidas organizadas na expectativa. Durante os 5 km da prova Circuito das Estações, em setembro, os brasilienses Marcelo e Luisa Marques, 14 e 17 anos, correram lado a lado. Nos últimos metros, Marcelo dispara e ultrapassa a irmã. Vence por uma diferença de 14 segundos, cruzando a linha de chegada em 43min33. O tempo, longe do recorde pessoal da dupla, era detalhe no desafio proposto pela tia deles, Antonia Barbosa, e pelo treinador Thiago Cardoso, da assessoria esportiva Next Run. O combinado era: quem vencesse levaria um tênis de corrida. "Foi um estímulo a mais para a gente treinar. Valeu só pela disputa!", diz Marcelo.
O desafio foi uma entre as várias iniciativas de Antonia para manter a motivação dos sobrinhos, que só começaram a correr depois de muita insistência. "Eles nunca foram de fazer esporte, têm histórico de obesidade na família e não tinham incentivo", diz a tia, que é corredora. Para mudar esse quadro, ela passou a levar os dois para assistir às suas provas e Marcelo, então com 13 anos, mordeu a isca. "No Circuito Adidas de 2009, em março, eu vi toda aquela gente correndo e pensei: 'Nossa, deve dar a maior alegria, a maior empolgação'", diz o adolescente. Foi lá que ele conheceu o treinador Thiago, que o levou para um teste e passou a administrar seus treinos. "O Marcelo tinha feito outros esportes e já foi discriminado por ser gordinho. Na corrida, foi muito bem recebido e hoje tem vários amigos", conta Antonia.
- Para manter o pique, Marcelo e Luísa têm sempre um desafio pela frente
Mas não foi fácil engrenar. Marcelo não faltava aos treinos coletivos — a presença da turma era um estímulo —, mas treinar sozinho era uma dificuldade. Um ano se passara e o garoto não evoluía. Até receber um ultimato da tia: "Ou você faz direito ou eu paro de pagar", disse. "Pouco tempo depois, ele me liga do Parque da Cidade e diz: 'Tia, tenho novidade pra você. Eu e Luísa estamos treinando juntos'." E ganharam uma espécie de tutora na corrida. A tia leva os irmãos à nutricionista, compra frequencímetro, tênis, roupa para correr. "A cada prova, a cada recorde, dou um presente, nem que seja simbólico", conta. "Também ligo para perguntar se treinaram na rua, os tempos que fizeram, participo de provas com eles e diminuo o ritmo para acompanhá-los."
Marcelo diz que aprendeu uma tática extra para não cabular os treinos. "Levanto e vou, mesmo sem vontade. Porque sei que chegando lá vou me animar, vou melhorar meu dia", diz. Os irmãos contam que ganharam disposição e fizeram muitos amigos no grupo de corrida. Agora treinam para reduzir o tempo nos 5 km. "Eu faço em 39 e uns quebradinhos", diz Luisa. "Eu, em 38 cravados", conta Marcelo. Também querem estrear nos 10 km ("até o começo de 2011") e sonham com os 42 km. "Com os 5 km, vi que tinha força para reduzir o tempo, para continuar e enfrentar os obstáculos. Um dia chego na maratona", diz Luisa.
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