Empréstimo consignado, cartão de crédito, carnês, financiamento de carros, Fies, empréstimo pessoal, cheque especial e pré-datado. Com tantos recursos à mão para quem deseja gastar mais do que a renda permite, não faltam indicadores mostrando a elevação da”deseducação financeira” do brasileiro.
Dados da Serasa Experian mostram que no primeiro semestre, a inadimplência do consumidor brasileiro cresceu 22,3%. O pior é que, após abrir um buraco no orçamento, a pessoa além de começar a pagar juros continua consumindo mais do que o rendimento permite. Resultado: os débitos sobem de forma estratosférica.
Foi o que aconteceu com a engenheira A. R. C, que solicitou a preservação de sua identidade. Há cinco anos, ela ganhava R$ 2.000 mensais e limite de cheque especial de mais R$ 3.000. O meio de pagamento a mais era utilizado todo mês, a um ponto de nem quando o salário era depositado a conta ia para o azul.
As despesas com o filho que arcava sem auxílio do pai da criança agravavam, assim como as regalias oferecidas pelo banco, que garantia cheque especial e crédito pré-aprovado, ofertado à época em que ela ganhava bem. Em um ano, A.R.C contabilizou um passivo de R$ 7 mil.
O que os endividados não percebem é que controlar melhor as contas é mais fácil do que aparenta. O funcionário público de Brasília Cristóvão Cassiano desenvolveu há 3 anos um modelo de acompanhamento em Excel em que registra toda a renda pessoal e as despesas, separando as fixas (contas que têm que ser pagas) daqueles gastos voluntários. Segundo Cassiano, que desenvolveu a planilha quando estudava Ciências Contábeis, “não é necessário conhecer contabilidade. Você não pode é perder de vista as despesas efetuadas”.
Alguns sites da internet oferecem orientações para quem não consegue gastar menos do que ganha e tem parcela significativa de sua renda se esvaindo no pagamento de juros. Porém, é preciso ser seletivo, pois algumas destas “ajudas” são ciladas, uma vez que cobram pela assistência, o que pode ampliar as dificuldades financeiras.
Pode não parecer, mas o mercado é atrativo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec) “pelo menos 18 milhões estão devendo uma ou mais parcelas de algum tipo de contrato”.
A Serasa informou por meio de nota que em 2011 a inadimplência cresceu em quase todas as modalidades de pagamento, excluindo apenas protestos. “O consumidor enfrenta uma redução no poder aquisitivo e o crescente endividamento dificulta o pagamento das dívidas assumidas anteriormente”.
Economistas consultados pela Serasa chamam atenção para o crescimento da inadimplência com cheques “devido a vários segmentos do varejo intensificarem o uso do pré-datado, para contornar os custos com cartões de crédito e para aliviar o consumidor do maior IOF”.
Ainda segundo esta empresa, o volume de registros de cheques devolvidos por falta de fundos no primeiro semestre de 2011 cresceu foi de 19,3 por mil compensados na média mensal, contra 18,6 por mil do ano passado – alta de 3,7%. Na pesquisa de qualidade do consumidor – em que quanto mais perto de 100, menor é o risco de inadimplência – o Nordeste registrou nota 78,4 nos dois trimestres. Em 2010, a região obteve nota 79,9 e 79.
Matéria originalmente produzida para o jornal Tribuna da Bahia.