Vivemos em uma sociedade muito materialista. Nesse ambiente é natural que as pessoas estejam focadas em sua qualificação profissional buscando crescer sua posição hierárquica e sua renda dentro das empresas onde trabalham. Falar sobre dinheiro, competitividade, carreira e pretensões financeiras é natural em nosso ambiente social. Nesse contexto, ser bem sucedido é ganhar muito dinheiro, ter um carro caro, etc. O sucesso não tem nenhuma relação com paz interior, espiritualidade ou com nossa capacidade de ajudar o nosso próximo. O critério de avaliação é 100% materialista.
Por outro lado existem outras questões que afligem todas as pessoas de maneira mais ou menos intensa. Elas se referem a questões interiores, de desenvolvimento espiritual e de auto-conhecimento. O ser humano convive desde sempre com um fato implacável: somos mortais e não podemos ter acesso à informação do que será de nós após a morte. Embora essa seja uma questão tão antiga quanto nossa existência, nossa sociedade praticamente nos proíbe de discuti-la. Falar sobre religião ou sobre espiritualidade é proibido em nosso ambiente profissional e social, afinal “Religião não se discute”.
Essa proibição social impede as pessoas de aprofundar seus conflitos e as convida a deixar esse assunto de lado. O resultado é que muitas pessoas passam a viver uma proposta de vida 100% materialista e por isso temos uma sociedade tão egoísta e com tantas dificuldades de se comportar de maneira digna de ser chamada de humana. Ou seja, somos seres humanos tendo dificuldade de nos comportar como tal.
Talvez você esteja se perguntando: Porque alguém está escrevendo sobre isso em um veículo de comunicação de negócios?
Temos trabalhado com a formação de equipes e com a busca por ambientes de trabalho em que as pessoas tenham alto rendimento e alta motivação. Isso passa com certeza por aprofundar os relacionamentos e compreender as verdadeiras angústias. Isso passa por aproximar as pessoas e tentar perceber suas verdadeiras necessidades.
Há algum tempo temos dedicado parte do tempo de nossa empresa a momentos que permitam a reflexão de assuntos não profissionais e discussão de conflitos pessoais e conversas “pouco produtivas” sobre espiritualização, dificuldades pessoais, auto-conhecimento e até sobre um assunto proibido: Deus. Não estamos falando aqui de convicções religiosas, temos visto pessoas de diversas religiões participarem dessas atividades em harmonia.
O fato é que dedicar tempo em um ambiente social ou profissional para meditar e para conversar sobre essas questões que são reais, mas que temos muitas vezes procurado esquecer, tem gerado um resultado concreto e impressionante.
Na prática o que acontece em nossa experiência é que começamos fazendo treinamentos de auto-conhecimento e desenvolvimento pessoal. Depois passamos a ter conversas profundas sobre nós mesmos em momentos de treinamentos. Posteriormente percebemos que quando esse ambiente se formou, as pessoas começaram a estar mais a vontade para se preocupar com o outro e se aproximar pessoalmente dele. Um dia alguém sugeriu fazer uma prece semanal e isso se tornou uma cultura da empresa, que depois se tornou diária. Recentemente alguém sugeriu que em nossa reunião de fim de ano tivéssemos um momento espiritual. Ficamos aproximadamente duas horas conversando sobre conhecimentos que oficialmente nada tem a ver com o trabalho, mas que nos fazem olhar para nós mesmos.
Temos visto pessoas que não tinham afinidade se tratando cada vez melhor e se aproximando. Isso acontece quando começamos a entender nossas próprias limitações e com isso nos solidarizamos mais com o outro. Temos visto pessoas procurando outras para expor seus conflitos. Temos visto pessoas descobrindo que seus conflitos estavam tão bem guardados em seu íntimo que sequer sabiam que eles existiam.
Acreditem, esse assunto pode ter relacionamento real com ambiente de trabalho, produtividade e lucratividade de uma empresa. Empresas são pessoas, pessoas equilibradas trabalham em harmonia, produzem mais e o mais importante: são mais felizes!
Dr. Clóvis Corrêa, médico veterinário, diretor do ReHAgro.