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A HISTÓRIA DE (DES) AMOR
Mario Quilici, quarta-feira, 29 de outubro de 2008
A HISTÓRIA DE (DES) AMOR
Silvia é uma amiga de infância. Fizemos juntos a pré escola e brincávamos na mesma rua. Crescemos juntos. Na adolescência nos separamos. Silvia se mudou e nós ficamos um tempo separados. Um dia, encontro Silvia num congresso: tínhamos escolhido a mesma profissão. Silvia vem de uma família de Judeus em que o pai, como muitos emigrantes, chegou ao Brasil sem nada e, após muito trabalho, conseguiu construir razoável fortuna. Casou-se com a mãe de Silvia que já vinha de uma família judaica tradicional e abastada. Formavam um casal especialmente simpático e estavam sempre atualizados com as coisas de seu tempo. Quando a revolução sexual começou eles já tinham feito a própria revolução sexual e educaram seus filhos de forma aberta e não preconceituosa.

Silvia tornou-se uma mulher bonita, alegre e inteligente. Casou-se e teve uma filha. Depois de dez anos de casamento, enviuvou. Viúva e já com a filha crescida, Silvia dedicou-se de forma quase que integral a seu trabalho. É uma pessoa doce, agradável, sensível e equilibrada. Temos o hábito de longas conversas.

Numa ocasião, há bem pouco tempo, Silvia me contou que havia conhecido um rapaz muito legal. Estavam apaixonados. Há muito eu não a via assim, fazendo planos. Ambos tinham um nível sócio econômico semelhante, as mesmas idades e inúmeras possibilidades de gozarem a vida em paz. Tudo estava indo bem, até que Silvia, aos poucos, vai mostrando ao namorado suas qualidades intelectuais, habilidades e conhecimentos culturais. Silvia altera alguns de seus planos e acerta com o rapaz algumas datas para viajarem. As declarações de amor se sucedem e entretanto, repentinamente, o rapaz desaparece. Mantém apenas alguns contatos telefônicos com inúmeras justificativas onde reafirma seu amor.

A situação é não só constrangedora como também enlouquecedora. Assustada, Silvia me procura para conversar. Conta tudo, desde o início. Observo que a história de vida do rapaz contrasta em muito com a de minha amiga. Ela havia sido criada numa família carinhosa e tolerante que estava em sintonia com as mudanças do mundo. Tinha apoio de seus pais e irmãos e viviam sempre numa harmonia rara. O rapaz, ao contrário, vinha de uma família onde o pai impulsivo era alcoólatra e que perdera todos os poucos bens da família no jogo. A mãe dele havia sido uma ex empregada doméstica da qual os irmãos do pai (? ) envergonhavam-se. Quando ainda era menino, o rapaz foi entregue pelos pais a um tio para que este o criasse. Localizamos que as coisas começaram a piorar quando ela recebeu uma oferta tentadora para publicar um livro.

Logo, as qualidades de minha amiga, que é uma pessoa ativa e dedicada às coisas que faz e, por isso, sempre acaba sendo bem sucedida, foram a conta certa. O rapaz não pôde suportar o sucesso , a fruição e o prazer que ela tinha ao lidar com a vida. Quando a elogiava por sua inteligência e beleza, o fazia como se tivesse um grande pesar. Muitas vezes disse à ela que não acreditava na relação deles porque ela era muito bonita e ele muito feio. Quando ela lhe dava alguma informação, ele refutava mas logo a seguir, em conversa com outras pessoas, emitia o mesmo parecer, como se fosse coisa pensada por ele. Quando ela lhe falava de suas conquistas, cheia de alegria por ter com quem dividir, ele ouvia calado e mudava de assunto. Ela se assustava. Muitas vezes chegou a se perguntar se havia falado algo de errado.

Silvia não havia percebido que o rapaz sentia amor por ela mas, antes disso, estava a inveja. Silvia lembrava-se que "Pudinzinho, que era como ela o chamava, só havia se relacionado com mulheres de baixo nível durante toda a sua vida. Nunca havia se casado e havia se relacionado apenas com duas mulheres de bom nível. A primeira havia sido sua noiva e haviam terminado por causa de uma briga com a família dela onde as diferenças sociais haviam dado a nota principal.

Qual a forma que ele encontrou de destruí-la? Tirou dela o que ela mais gostava: ele. Torturou-a durante meses com telefonemas, desculpas, promessas e ausências. Quando ela começou a perder a paciência e tornar-se agressiva, ele pontuou isso a ela era a forma de mostrar a ela um defeito que ele não tinha encontrado antes. Mesmo quando ela deu o assunto por encerrado, ele fazia questão de que notícias suas chegassem até ela. As viagens que tinham planejado fazer juntos, ele as fez só e fez questão de comunicá-la de algum modo.

Quantas vezes, coisas como essa, acontecem em nossas vidas e nós ficamos boquiabertos, sem saber o que pensar ou como explicar a situação? Nossa! Tinha tudo para dar certo e o que aconteceu então? Mas ele não me amava? O que aconteceu, fiz algo de errado? Quantas perguntas sem resposta. São situações que às vezes nos deixam com a sensação de que estamos pirando. Não estamos. Na realidade temos uma tendência a deixar a pessoa que amamos num nível muito bom e por isto, temos dificuldade para identificar suas mazelas.

Provavelmente foi esse sentimento, o da paixão, que não permitiu à minha amiga, identificar o problema do "Pudinzinho": a inveja. Popularmente pensa-se a inveja como sendo apenas o desejo do outro por algo que possuímos. Fala-se em "olho gordo" ( o olho que infla de desejos), de "mau olhado" ( o olho que olha com despeito) etc. Mas a inveja é muito mais que isso. Pensa-se que a inveja é um sentimento justificado, ou seja, há algo de concreto que se inveja e que é por sua natureza, invejável. Nada mais falso. O invejoso pode ser um milionário invejando algum talento de um pobre. Não há regras. Inveja-se por questões de ordem emocional. Veremos mais à frente o alcance desse sentimento humano.

De certo modo, todos nós conhecemos a inveja: um sentimento de ressentimento por alguém estar à frente, fazer algo melhor, uma certa hostilidade, uma rivalidade competitiva. Esse é o comportamento normal de inveja que todos nós sentimos. É de fato, o mais comum. Dizer que não se tem inveja é o mesmo que dizer: não respiro. Portanto, a questão é: como a gente lida com a inveja?

O problema começa quando a inveja se torna patológica. Nesses casos ela é mais intensa. Vemos esse tipo de inveja naquelas pessoas que criticam os outros incessantemente ou então vivem dando alfinetadas. Os invejosos estão sempre provocando, escarnecendo e criticando àqueles que invejam. Se não podem fazê-lo diretamente, o fazem através de outros ( falando mal, denegrindo, desvalorizando) mas sempre com a certeza de que estarão atingindo seu alvo. Um exemplo disso é aquele tipo de pessoa que inveja a inteligência e a tranqüilidade de outra pessoa e então põe-se a cutucá-la até que ela perca a calma. Acho que foi o que aconteceu com Pudinzinho" e Silvia. Ela em sua tranqüilidade lúcida compreendia e sabia lidar com as intempéries.

O invejoso não consegue encontrar o que elogiar ou valorizar nos outros. Também é comum encontrar sempre uma razão para duvidar daqueles à sua volta com o objetivo de derrubá-los. A pessoa invejosa acha tão difícil suportar que o outro tenha alguma coisa boa que ele não pode reconhecer ou usar aquela pessoa construtivamente. Podemos ver isso surgir na forma de uma verdadeira incapacidade de receber informação ou ajuda. Tal condição pode impedir o indivíduo de fazer a leitura de livros ou receber conselhos porque terá que reconhecer a importância do outro. Essas pessoas dificilmente conseguem escutar o que as outras pessoas tem para dizer. E sempre que se encontram numa situação onde ouvem coisas que lhes desperta a inveja, arrumam todo o tipo de artificio para parar com a conversa ou mudar de assunto.

Outra forma na qual a inveja pode ser vista com facilidade é quando conduz à determinação de obter o que a outra pessoa tem. Então, se fulano tem um carro, o invejoso não sossegará enquanto não comprar um igual. Ou então, na impossibilidade de conseguir, vai desdenhar. Todos conhecemos a história da raposa e das uvas. A forma como a pessoa invejosa destrói o invejado é pela injúria. Silvia às vezes irritava-se com seu "Pudinzinho" por que ele tinha um carro velho e ao vê-la com um carro do ano, justificava-se "Ah! Que bobagem comprar carro novo. Para quê? Eu não tenho carro novo por que não quero". Mas quem perguntou?, inquiriu ela.

O invejoso é sempre alguém com um profundo sentimento de inadequação e, por isto, estará sempre idealizando o outro o que , por sua vez, incrementará a inveja, deixando o sujeito num círculo vicioso. A idealização é um mecanismo de defesa importante. Deixando o outro engrandecido, bonito, competente, inteligente, o invejoso fica pequeno e portanto é difícil a aproximação ou comparação.

O invejoso não pode receber o que o impede de sentir gratidão. Isso significa que sua capacidade de amar e ter prazer, sofre graves interferências. A inveja impede que construa relacionamentos bons, onde a confiança, o companheirismo e a cumplicidade são impossíveis. Esse comportamento, influencia todo o comportamento do indivíduo e vai torná-lo inseguro. Dessa forma, esse indivíduo sentirá o mundo à sua volta como hostil e destruidor e tornar-se-á mais paranóide e desconfiado em suas atitudes em relação às demais pessoas e assim, seu mundo tornar-se-á desagradável. O "Pudinzinho" vivia trancado em casa. Tinha horror de sair de casa à noite e ser assassinado.

São pessoas que têm muito pouco prazer na vida pois quando o tem, parecem ter a sensação de que aquilo é pouco. Dessa forma, é comum vê-los trancado em casa achando que nunca têm tempo suficiente para nada, e as coisas que fazem são sempre mal curtidas por que nunca podem usufruir intensamente o tanto que lhes coube. Se alguém tem um objeto ou prazer semelhante ao seu, ficam achando que o que é deles, é ruim. O nosso "Pudinzinho" quando apresentado a um amigo de Silvia que tinha um aparelho de gravar CDs, foi logo comprar um igual. Quase entrou em crise ao descobrir que seu aparelho não tinha as mesmas facilidades que o aparelho do rapaz.

Quando se priva da experiência de alegria e felicidade, o invejoso, não sofre sozinho, faz sofrer também aquele que tentou lhe proporcionar a alegria, tornando-o impotente na medida em que inutiliza seus esforços. Aliás, aqui podemos ir um pouco além e dizer que o invejoso restringe seus contatos sociais e evita situações que possam estimular a rivalidade e a inveja. É uma maneira muito habitual e familiar ao invejoso.

Na maioria das vezes a inveja é inconsciente ou seja, a pessoa não sabe que é assim.

Mas existem aqueles invejosos que sabem de sua doença mas negam e evitam se defrontar com ela. É lamentável que alguém passe a vida dessa forma pois, inevitavelmente afundará na mediocridade e pouco conseguirá construir para si mesmo. Um tratamento psicanalítico pode ser de grande valia para os invejosos que podem então, após a recuperação, começar a viver num lugar que eles nunca imaginaram. Mas como foi dito acima, o invejoso é alguém que não aceita nada de ninguém, não reconhece valores e não sentem gratidão. Assim, creio que a coisa fique um pouco mais difícil para eles.

Aqui vai uma anedota clássica que ilustra bem o invejoso:

Conta uma história, que um sujeito muito mal humorado, andava pelo campo quando deparou-se com uma lâmpada mágica. Ao esfregá-la, surgiu um gênio que disse:

- Por me libertar, o senhor terá direito a três desejos. Só que tem um detalhe, tudo o que o senhor desejar, seu vizinho vai ganhar em dobro.

O homem então pensou e pediu: Quero Ter uma fortuna tão grande que, por mais que eu gaste dinheiro, ela nunca se acabe. O gênio lhe concedeu esse desejo e deu o dobro ao vizinho do homem.

- Quero ser bonito o bastante para agradar todas as mulheres.

O gênio concedeu-lhe o desejo transformando o homem grosseiro e mal humorado numa criatura de extrema beleza. Seu vizinho tornou-se duas vezes mais belo. Então o gênio disse: Qual é seu terceiro e último desejo?

- Quero que você me dê uma surra que me deixe quase morto.


Mario Quilici, psicanalista, é um pesquisador independente e ativo do desenvolvimento infantil e de como os distúrbios do vínculo entre os Bebês e seus pais podem levar ao surgimento de psicopatologias na medida que impedem um adequado desenvolvimento emocional e consequentemente da personalidade. Também pesquisador e estudioso nas áreas de neuropsicologia e psiconeuroimunologia.
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