É comum ouvirmos gritos contrários à violência que existe além dos pórticos de nossa casa. Mas como está a paz do lado de dentro? O que temos feito contra os pequenos e crescentes atos de violência familiar? Lutar pela paz passa por nos preocuparmos com o bem-estar daquele que divide o teto conosco.
Muitas vezes notamos que a cadeira da sala está empoeirada e sequer percebemos a tristeza que invade o coração daquele familiar que nela está assentado. Brigamos por um quadro torto na parede, por uma comida salgada, um filtro sem água uma roupa amarrotada, uma conta não paga e deixamos o sol se pôr sem tratar destas questões tão simples de serem resolvidas.
Uma frase dita pela metade, uma interpretação errada, um julgamento precipitado, uma negativa de direito de resposta, tudo isto afasta a paz de nossa casa. A cada ato ou omissão, colocamos mais um tijolo na trincheira que vamos aos poucos construindo para a guerra que fomentamos.
Guerra que segue a rota das varas de família, divãs, hospitais da solidão dos quartos desfacelados, dos bares infelizmente, dos juizados de menores e, muitas vezes, dos sepulcros e prisões.
A violência das ruas está ligada à violência surda e muda dos lares. O ambiente doméstico funciona como o protótipo do mundo que vivemos, daí a necessidade de reavaliação, de cultivarmos valores éticos e morais capazes de nos tornar invulneráveis aos sentimentos, pensamentos e atos de desamor. E aqui vale lembrar que, embora tudo nos seja permitido, nem tudo nos convém.
* Rosane Ferreira é advogada, colunista de Direito de Família do Jornal da Alterosa.
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