Show em BH será no próximo dia 24. Artista anuncia CD ao lado de Stevie Wonder
Os números impressionam: são 70 discos, 50 milhões de cópias vendidas somente nos Estados Unidos e 15 Grammys em quase 60 anos de carreira. Mais impressionante ainda é Tony Bennett, aos 83 anos, manter-se na ativa, em plena forma, fazendo turnês e planos. Agora, pouco antes de embarcar para mais uma turnê brasileira, o único remanescente da geração Sinatra prepara o repertório de um próximo álbum, que vai gravar com outro ícone da canção norte-americana, Stevie Wonder. Nesta passagem pelo Brasil, Bennett vai se apresentar em seis cidades a partir da próxima quarta-feira. Em Belo Horizonte, canta no Chevrolet Hall no dia 24.
Com uma trajetória iniciada no final dos anos 1940 – na época, contou com o auxílio de Bob Hope, que inclusive criou seu nome artístico, já que, nascido Anthony Dominick Benedetto, o cantor se apresentava como Joe Bari –, Tony Bennett tornou-se eterno ao interpretar standards como Because of you, Rags to riches, I wanna be around, The good life e o maior deles, I left my heart in San Francisco. Com um histórico destes, bem poderia ter aposentado seu smoking e continuar se dedicando à pintura, sua principal atividade extramúsica.
Mas não, seguiu em frente. Em meados da década de 1980, diante de uma carreira que já havia visto tempos melhores, deu seu pulo do gato: aproximou-se do público jovem. Tornou-se queridinho da MTV ao gravar um Acústico, em 1994, mostrando que estilo, classe e boa música não têm idade. Mais recentemente, renovou seu repertório gravando ao lado de nomes como k.d.lang, Bono, Elton John, Sting, Astrud Gilberto e Juanes, entre vários outros.
É este Tony Bennett que chega ao país, quando vai se apresentar ao lado de seu quarteto, formado por Lee Musiker (piano), Gray Sargent (guitarra), Harold Jones (bateria) e Mashall Wood (baixo). Sem planos de se aposentar, Bennett falou ao Estado de Minas sobre sua carreira, sua invejável disposição e de música brasileira.
Nas duas últimas décadas o senhor conseguiu retornar ao topo das paradas gravando com cantores de diferentes estilos e gerações. Quais as preferências?
Todos os artistas que gravaram comigo no CD Duets são o máximo. Fiquei muito surpreso pela maneira como eles estavam preparados quando chegaram ao estúdio. Elton John foi inacreditável, ele tocou minhas canções ao piano e fizemos o take de Rags to riches em 32 minutos. k.d. lang é uma das melhores cantoras que já ouvi, ao lado de Judy Garland. Foi essa uma das razões pelas quais adoro cantar com ela – está completamente preparada para gravar toda vez que trabalhamos juntos e cada nota que canta vem da alma.
O Acústico MTV foi também determinante para que o senhor se tornasse popular entre os jovens. Que modificações o senhor teve que fazer no repertório para gravar um projeto para um público mais novo?
Na verdade, não muita coisa, porque a ideia que apresentamos era gravar da mesma maneira que fiz ao longo de toda a carreira. E para boa parte dos jovens, aquela foi a primeira vez que ouviram as canções. Foi irônico quando me chamaram para gravar um acústico. Disse aos produtores que ficaria muito feliz em gravar e perguntei como eles gostariam. Disseram que fizesse como queria, já que tinha sido acústico por toda a minha carreira.
Com milhões de discos vendidos, a popularidade ainda hoje em alta e vários prêmios, o que desafia o senhor nos dias de hoje?
Tenho tantas ideias para gravações que espero ter a chance de poder fazer tudo. Não importa quão bem-sucedido você é; se perde a paixão pelo que faz, não há mais razão para continuar fazendo. Adoro, como sempre adorei, fazer shows. Acredito que seja uma maneira muito nobre de continuar seguindo com a minha carreira: ir para o palco e esperar que a plateia aproveite a música e deixe os problemas do lado de fora.
Sua carreira tem mais de 50 anos. O que ficou melhor e pior com a passagem do tempo?
A melhor parte é justamente continuar fazendo o que sempre fiz. Assinei um contrato novamente com minha gravadora de início, a Columbia, então são quase 60 anos agora. Um problema que a cena musical trouxe aos artistas foi a grande pressão em cima de cada um. Se você não vendesse 1 milhão e cantasse em estádios de futebol lotados, estava fora. Houve um tempo em que os artistas eram estimulados a não somente fazer um sucesso instantâneo, mas a estabelecer uma longa carreira.
Pessoas que assistiram à atual turnê ficaram impressionados com sua força no palco. Que tipo de precaução o senhor toma, principalmente com a voz?
Continuo com saúde. Exercito-me regularmente e fico de olho na minha dieta. Como estudei muito canto lírico, isso se tornou essencial para aumentar a longevidade da minha voz.
O senhor é o último da geração Sinatra. De uma geração posterior de cantores, que nomes o senhor aponta como herdeiros desse repertório?
Artistas como k.d.lang, Michael Buble e Diana Krall estão fazendo carreiras bem-sucedidas com um repertório de standards. Como são essas as melhores canções já compostas, acredito que vão durar para sempre.
Que relação o senhor tem com a música brasileira?
Conheci João e Astrud Gilberto em 1962, quando me apresentei pela primeira vez no Brasil. Assim que eles me mostraram a música brasileira, me apaixonei. Na época, bossa nova era o máximo na América Latina, mas ainda não havia chegado aos Estados Unidos. Quando voltei aos EUA, comecei a falar nas rádios sobre essa música fantástica e alguns meses mais tarde a bossa explodiu no país. Fiz várias turnês no Brasil daquela época para cá e adoro particularmente o Rio, que já pintei em diferentes ocasiões.
Desde que gravou seu maior sucesso, I left my heart in San Francisco, na década de 1960, houve algum show em que o senhor não o tenha interpretado?
Não tenho certeza, mas acho que não.
Que canções o senhor pretende gravar num futuro próximo?
Tenho uma lista delas justo agora por causa de meu novo projeto, que terá a colaboração de Stevie Wonder. Para descobrir quais, você terá que comprar o CD.
Por quanto tempo mais o senhor pretende continuar gravando e fazendo turnês?
Sempre me perguntam se vou me aposentar ou não e a resposta é sempre a mesma: me aposentar do que, se faço o que mais gosto no mundo?
TONY BENNETT
Show dia 24, às 21h, no Chevrolet Hall, Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, (31) 3209-8989. Ingressos: mesa para quatro pessoas: R$ 1 mil (preço único); arquibancada: R$ 250 e R$ 125 (meia).