Comprei dois almanaques, um dos anos 70 e outro dos anos 80. Sou vidrado neles. A paixão começou com os de farmácia que traziam praticamente tudo o que um ser humano comum deveria saber.
Folheando obras que retratam uma época em que você viveu, mais do que o saudosismo inevitável, acontece a surpresa de olhar os fatos com um bom distanciamento de tempo. Passados tantos anos, enxergamos detalhes que no momento em que ocorreram, envolvidos pelo impacto dos fatos, não pudemos perceber.
Um gringo cujo nome não me lembro disse que a queda do Muro de Berlim significava o fim da história. Acho que o mesmo está acontecendo com a música. O quase ex-cantor Chico Buarque falou que não existem mais letras e melodias. No seu lugar, músicas faladas e percussão intensa.
Começo a acreditar nisso. Existe uma enorme sucessão de cantores e músicas que mesmo alavancados por um poderoso esquema de mídia fazem sucesso efêmero. Surgem e somem rapidamente sem deixar rastro. Na falta de formação musical e competência, ressuscitam canções do passado.
Sempre houve regravações de músicas. É até salutar ver um grande cantor interpretar um clássico de maneira diferente do original. Causa-me espécie as regravações de sucessos bregas. Desprezadas à sua época, viram “cult” na voz de algum medalhão da MPB.
Não há um novo olhar ou, melhor dizendo, um novo cantar que altere uma constatação. O que era ruim, não importa quem cante, continuará sempre a ser ruim.
Toufic Anbar, médico, é mantenedor da Faceres