Domingo Braile
Infelizmente aviões caem!
Certa vez perguntaram a meu grande amigo, Waldir Jasbik, Professor de Cirurgia Cardíaca no Rio de Janeiro, se ele tinha medo de voar.
A resposta foi imediata:
Não! não tenho medo de voar, tenho medo é de cair!
Impossível ficarmos indiferentes ao sofrimento das vitimas e de suas famílias com o aterrorizante acidente com o Airbus da Air France, no fatídico vôo AF-447.
Apesar de estatisticamente as viagens aéreas serem muito mais seguras que em qualquer outro meio mecanizado, quando os acidentes acontecem criam desconfiança e medo em quantos por dever ou laser, usam este moderno sistema de transporte.
O transporte aéreo fez o planeta “encolher’, pois não medimos mais as distancias em quilômetros e sim em horas de voo.
Os aviões tem se tornado cada vez mais seguros, à custa de uma incrível tecnologia embarcada, que vai pouco a pouco transformando os pilotos em simples observadores do desempenho dos múltiplos computadores que tomam a si a responsabilidade de fazer do voo um procedimento matematicamente perfeito.
Quem “comanda” a aeronave é o rebarbativo ADIRU (Air Data Inertial Reference Unit) Unidade de Referência Inercial para Navegação Aérea.
Não podemos negar que com isto a segurança aumentou, mas quando falhas acontecem o comandante perde o domínio da situação, não podendo usar como deveria as informações do mais completo computador existente na natureza - o Cérebro Humano!
Muitos acidentes decorrem de falhas humanas, mas os computadores também falham, e são incapazes de reagir a situações para as quais não tenham sido pré-programados.
Como piloto há mais de 55 anos, quero descrever-lhes uma interessante história que ocorreu no ano de 1957 com um Super H Constellation da Varig, um quadrimotor, movido a gasolina.
A aeronave fazia um pioneiro vôo, o VG-850, de Porto Alegre à Nova York, com escalas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belém e Santo Domingo, obrigava-o a tantos pousos a pequena autonomia que tinha.
Era seu comandante o aviador Heraldo Knipling, piloto da Varig desde 1944. Hoje com 86 anos, que é quem descreve com lucidez os acontecimentos.
Durante a decolagem em Belém um motor parou. Como tínhamos mais três, seguimos viagem até “Ciudad Trujillo” hoje, Santo Domingo, onde trocaríamos o motor.
Lá chegando, não havia o motor para reposição, pois havia sido usado em outra aeronave em pane.
Por orientação da companhia deixamos os passageiros em terra e partimos, só a tripulação, para Nova York.
Após 1h. de voo, outro motor explodiu e sua hélice arrebentou o que estava ao seu lado.
Com um motor apenas, o Constellation não podia voar.
Tivemos que descer no mar, escolhendo com perícia a crista de uma enorme vaga e ainda com vento de través!
Inflamos os botes salva vidas e abandonamos o avião, antes que ele afundasse. Um comissário desapareceu. Nós chegamos à praia sãos e salvos, apesar do mar estar infestado de tubarões, como nos disse a multidão espantada que nos esperava!
Estas são histórias da aviação romântica, em que o comandante é que mandava no avião!
Para os leitores que quiserem ver e ouvir a história contada pelo próprio comandante Heraldo, procurem o vídeo no endereço: http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=65305&channel=45
Domingo Braile Prof. Livre Docente da Famerp e Unicamp. Diretor de Pós-Graduação da Famerp