Ketleyn Quadros, judoca, medalha de Bronze na Olimpíada de Pequim e primeira mulher do país a obter uma medalha olímpica em esportes individuais.
Minha mãe, Rosemary de Oliveira, 42 anos, é a maior razão para eu ser o que sou hoje. Desde pequena, cresci vendo a mulher batalhadora que ela é. Quando eu tinha menos de 3 anos, meus pais se separaram. Ela não recebeu pensão alimentícia nem qualquer outro tipo de ajuda. Criou sozinha as três filhas: eu e minhas irmãs Aline, de 14 anos, e Maria Eduarda, de 1 ano e 10 meses. Ela assumiu toda a despesa da casa e da família, trabalhando como cabeleireira.
Houve um tempo em que minha mãe conseguiu montar um salão de beleza. Mas meus avós maternos ficaram doentes e ela teve de fechar o salão e trabalhar em casa, para cuidar deles. Passamos dificuldades, mas mamãe nunca deixou faltar comida. E ainda conseguia juntar dinheiro para me dar uma bicicleta e um par de patins.
Aos 7 anos, meus professores da escola disseram a minha mãe que eu precisava fazer algum esporte, pois era muito ativa e agitada. Ela me perguntou o que eu queria fazer e eu respondi: natação! Então, minha mãe foi atrás de um lugar barato para me matricular. Encontrou o Sesi, onde pagava R$ 15 por mês.
Mas, quando eu vi as crianças brincando e pulando na aula de judô, passei a sonhar em fazer aquilo também. Ela se esforçou e conseguiu juntar dinheiro suficiente para me matricular nas duas aulas: judô e natação.
No entanto, quando fiz 10 anos, ela não teve mais condições de pagar as duas atividades e me pediu que escolhesse uma. Escolhi o judô!
Gostava tanto de lutar que comecei a não querer ir mais à escola. Mas minha mãe não deixou. Disse que eu só poderia ir para o Sesi depois da aula e de fazer os deveres de casa.
De aluna do judô para atleta olímpica
Quando comecei a competir, minha mãe fazia questão de me ver lutar. Às vezes, perdia clientes para poder me acompanhar. Em outras, tinha de correr atrás de dinheiro para pagar minha condução até o treino. A maior lição que minha mãe me deu é ter atitude. Apesar das dificuldades, ela é a pessoa mais feliz que conheço. Aprendi isso com ela. Aprendi ainda que podemos conquistar as coisas com nosso esforço.
Quando fui para a Olimpíada de Pequim, minha mãe sonhou em me ver lutar. Conseguiu recolher dinheiro com parentes, amigos e comerciantes de Ceilândia, em Brasília. Tanto fez que juntou o suficiente para viajar. Mas havia um problema: ela não tinha ingresso. Com a ajuda da minha madrinha, que sabe falar inglês, escreveu um cartaz dizendo: ‘Sou mãe de uma atleta brasileira de judô e estou sem ingresso. Preciso de ajuda.’ Uma pessoa se ofereceu para traduzir para o chinês. E deu certo! Minha mãe conseguiu o ingresso e me viu lutar. O esforço valeu a pena.”