Enquanto milhares de pessoas circulavam entre aparelhos de alta tecnologia na Feira de Produtos Eletrônicos de Consumo (CES, na sigla em inglês), em Las Vegas, começava a ficar claro que uma das maiores tendências do evento deste ano foi a busca de um "santo graal" que até agora se mostrou elusivo para o setor: a conectividade à internet na sala de estar.

Sony, Samsung, Panasonic, LG Electronics, Sharp e Toshiba revelaram planos para desenvolver tecnologias em seus mais recentes lançamentos de aparelhos de TV de tela fina e alta definição que permitam aos consumidores acesso a conteúdo limitado na internet, incluindo serviços de transferência de filmes e miniaplicativos do tipo widgets, elaborados pelo Yahoo ou outros parceiros de conteúdo. Os aparelhos que conectam os televisores à internet, até agora, tiveram impacto limitado. Produtos como o iTV, da Apple, funcionam bem, mas não chegaram aos mercados de massa. A esperança é que, ao integrar a internet aos televisores, o setor de entretenimento doméstico procure não ficar para trás, à medida que os consumidores passem a buscar conteúdo on-line, em vez de esperar pela transmissão de seus programas favoritos.
Com a conexão à internet tornando-se padrão na maioria dos aparelhos de TV, as repercussões poderiam ser gigantescas para as emissoras e outros provedores de conteúdo. Os anúncios em vídeos on-line representam uma minúscula fração da receita gerada pela TV com publicidade. Se a audiência desertasse da produção tradicional, as emissoras poderiam ter problemas.

As empresas de mídia, contudo, estão tranqüilas. Elas sustentam que qualquer mudança de comportamento do público não chegará no curto prazo. "Definitivamente, a convergência está ocorrendo, mas não creio que a internet na TV ocorrerá de forma tão rápida como as pessoas pensam", diz Dan Fawcett, presidente da Fox Digital Media, parte da empresa que exibe programas como "American Idol" e "Os Simpsons". A Fox é sócia da NBC Universal no serviço de vídeo pela internet Hulu, cuja popularidade é cada vez maior e, projeta-se, ultrapassará o YouTube em receita de publicidade nos EUA até o fim do ano.

Nem todos concordam que a receita de publicidade das emissoras ficará ilesa em meio às vendas de TVs com conexão à internet. "A convergência está ocorrendo claramente", afirma Dimitry Shapiro, fundador da Veoh, uma rede de vídeos on-line. "A internet é uma forma melhor de entregar vídeos do que o tradicional [serviço] a cabo ou por satélite."

Shapiro afirma que os aparelhos com conexão à internet "canibalizarão" a audiência de TV, em parte porque oferecem conteúdo com maior disponibilidade. "A TV sob protocolo de internet permite assistir a um número infinito de canais que poderão ser transmitidos por qualquer um, desde estúdios de Hollywood até uma pessoa comum. As redes de TV precisam perceber que o negócio está mudando."

As TVs com internet da última geração ainda não possuem capacidade de navegação, portanto, os consumidores terão de se contentar com o conteúdo disponível em canais pré-configurados. Isto poderia limitar o apelo de assistir a vídeos on-line, particularmente se os canais pré-configurados não oferecerem conteúdo que os consumidores queiram ver em grande número.

Os fabricantes de aparelhos destacam que a TV com conexão à internet está sendo guiada pela necessidade de dar aos consumidores mais opções. "Estamos facilitando para os consumidores acessarem o conteúdo que eles querem", disse um executivo da Samsung. A companhia, assim como a Sony, fechou um acordo com o Yahoo, que usará sua tecnologia de widgets para entregar informações via internet, como cotações, clima ou notícias de trânsito, diretamente aos aparelhos de TV de alta definição.

A Sony - pioneira no conceito de TV com internet há dois anos, quando lançou um módulo com entrada para internet em alguns modelos da linha Bravia -, e a maioria das fabricantes de TV também assinaram parcerias com serviços de filmes sob encomenda na internet, como Amazon Video e Netflix.

Os consumidores que não possuem televisores com capacidade de conectar-se à internet ainda poderão ter acesso a esses serviços, caso combinem as TVs com aparelhos de conexão à web, reprodutores de discos Blu-ray ou consoles de videogame, cujos fabricantes, por sua vez, também anunciaram acordos com serviços de internet como o Netflix.