Nenhuma surpresa: a enfática reação do Brasil diante do fato consumado de que Zelaya está usando a embaixada como bunker para exortar os hondurenhos à insurreição resumiu-se a um acanhado pedido oficial para que ele "abstenha-se de fazer conclamações e que não ultrapasse os limites já firmados".
A progressiva desenvoltura com que o hondurenho vem se comportando e a proporcional condescendência com que vem sendo tratado pelo governo brasileiro permitiram que, ontem, o presidente deposto distribuísse comunicado a jornalistas instando a população de Honduras a "organizar-se para promover atos de desobediência civil contra a ditadura” - coisa que ele sabe muito bem no que pode dar.
A tensão em Tegucigalpa é crescente. A presença de soldados, e agora das tropas de choque, diante da embaixada foi reforçada ontem e hoje. Amanhã, dia 28, completam-se três meses da deposição de Zelaya e grandes manifestações de rua estão sendo esperadas.
O ministro Celso Amorim soube do episódio do comunicado de Zelaya aos hondurenhos assim que chegou ao Brasil, vindo da Venezuela, na noite de ontem. Nem se deu ao trabalho de transmitir ele mesmo ao presidente deposto a resoluta e inapelável mensagem do governo brasileiro. Passou a tarefa para o único diplomata presente na embaixada, o ministro-conselheiro Lineu Pupo de Paula - que, aliás, já havia dito o mesmo ao hondurenho no dia anterior. Zelaya deve estar tremendo de medo.
A verdade sobre o "gás mortal" de Zelaya
26 de setembro de 2009
De onde quer que tenha partido o tal "gás tóxico" de que falou Manuel Zelaya, ele não teve outro efeito que não o de servir para que o presidente deposto exercesse seu marketing histriônico mais uma vez.
Um cheiro forte de gás foi de fato sentido na manhã de sexta-feira na embaixada brasileira e alguém terá de dar uma explicação sobre isso. Mas, segundo relatos insuspeitos de quem está lá dentro, ele:
- não provocou mais do que um ressecamento passageiro na garganta e um ardor nas narinas
- ninguém passou mal, vomitou sangue ou urinou sangue por causa disso, como alardeou Zelaya, que hoje chegou a comparar a substância às "duchas de gás nazistas"
- os médicos da Cruz Vermelha não foram impedidos de entrar para examinar os supostos "feridos"
- os 63 partidários do presidente deposto que se encontram na embaixada estão todos muito bem, obrigado
Tão bem que hoje, depois do almoço, resolveram se juntar para, aproveitando a recém permitida proximidade da imprensa, espalhar cartazes na varanda com frases conclamando a resistência. Só desistiram depois de tomar uma bronca do novo encarregado de (tentar) manter o que resta da autoridade brasileira na embaixada, o ministro-conselheiro Lineu Pupo de Paula.
Um pouco mais tarde, foi a vez do próprio Zelaya mostrar que, na qualidade de "hóspede", já ultrapassou todos os limites da desenvoltura: em comunicado distribuído aos jornalistas que estão dormindo na embaixada, exortou os hondurenhos a "organizar-se em cada aldeia, bairro, povoado, município, para promover atos de desobediência civil contra a ditaduras". Zelaya não tem mais qualquer dúvida de que a embaixada brasileira é seu bunker particular. Registre-se que ontem mesmo o presidente Lula ligou para o hondurenho para pedir-lhe um pouco de moderação e compostura. Agora, terá de engolir a seco mais essa afronta.