O governo britânico divulgou, na terça (16), o relatório Digital Britain, em que anuncia prioridades e metas do governo para o futuro digital. O principal ponto do documento, apresentado pela Secretaria de Estado para Cultura, Mídia e Esportes, é a intenção de, até 2012 (data dos Jogos Olímpicos em Londres) garantir acesso universal à internet de banda larga - 2 Mbps. A meta não é tão difícil quanto parece: só 10% da população do país tem conexão inferior a isso. O governo planeja investir 200 milhões de libras para atingir o objetivo.
Garantido o acesso universal, o próximo passo será o desenvolvimento de uma internet superrápida. E o relatório aponta que isso ficará na mão do governo, para evitar que "um reino divido em dois", com pessoas mais conectadas e outras menos. Para isso, será criado um fundo nacional, alimentado por uma taxa de 50 centavos por mês para o uso de linhas telefônicas fixas.
CRISE ECONÔMICA
O mote do documento é preparar o Reino Unido para uma recuperação após a crise financeira - preparando-o para um futuro em que a economia será fortemente digital. Para isso, o relatório afirma que é fundamental, portanto, que a estrutura digital do país esteja consolidada.
Para apresentar a inevitabilidade da face digital para o futuro de um país, a introdução do documento, assinada pelo lorde Carter de Barnes, ministro de Comunicações e Tecnologia, traça uma comparação sobre a velocidade da informação. "Em 26 de agosto de 1768, quando o capitão Cook embarcou rumo à Austrália, levou dois anos e 320 dias para que ele voltasse e descrevesse o que viu lá. Ontem (15/6), vinte horas de novo conteúdo foram postadas no YouTube por minuto, 494 hexabytes de informação transitaram pelo mundo, foram mais de 2,6 bilhões de minutos de ligações telefônicas entre celulares na Europa e milhões de pesquisas foram feitas usando o Google. O mundo digital é uma realidade de nossas vidas".
DIREITOS AUTORAIS
Outra realidade que o documento aborda é a da pirataria. E quanto a isso o relatório não bate o martelo. Aponta porém algumas medidas que poderão conduzir a área. De um lado, menciona a criação de uma campanha educativa para esclarecer que pirataria é crime. O documento parte da premissa de que as pessoas não querem praticar atos ilegais e que, portanto, ao saber que fazer o download gratuito de um arquivo protegido por direitos autorais é cometer um crime, vai preferir não fazê-lo. Do outro lado, sugere que seja estimulado o mercado de download legal, como lojas virtuais.
E quanto aos piratas inveterados, abre a possibilidade de dar aos servidores um canal para que, a partir do uso de leis civis, eles cortem o acesso à internet dos piratas constantes, aos moldes da lei aprovada há semanas na França e, logo depois, julgada inconstitucional.
CONSULTAS
Elaborado a partir de diversos outros relatórios relativos ao tema, o documento final foi discuto com a população por meio de um fórum eletrônico e de uma série de desconferências, termo usado para designar conferências em que não há um palestrante ou mediador.
Outras medidas contidas no documento, que tem 245 páginas e pode ser baixado na íntegra a partir do site www.culture.gov.uk, dão conta do acesso à internet a partir do celular (o país quer aumentar a cobertura 3G a passos largos), do rádio (todas as emissoras nacionais e algumas regionais deixarão de transmitir de forma analógica até 2015), oficiais (os serviços do governo deverão estar disponíveis na web integralmente até 2012), e de redução de impostos (os videogames britânicos, por exemplo, poderão ter a taxa reduzida tanto em plataformas físicas como no online).
O documento conclui que o papel do governo está em xeque com essa transição. A frase é de efeito, mas explica a iniciativa. "Este relatório aponta os próximos passos na jornada rumo a um verdadeiro governo digital - um governo da web e não penas na web."