Os atores Mario Frias e Guilherme Berenguer e a judoca Ketleyn Quadros contam como o amor de suas mães os ajudaram a vencer na vida
Guilherme Berenguer, ator
Sou o caçula da família, filho do segundo casamento de minha mãe, Dulce Berenguer, hoje com 65 anos. Ainda era bebê quando meus pais se separaram. Morávamos em Recife: eu, minha mãe e meus irmãos Dayse (hoje com 40 anos), Silvana (39) e Paulinho (37), portador de Síndrome de Down.
Minha mãe era nutricionista, tinha um buffet e fazia jornada dupla preparando refeições diárias e doces e salgados para festas nos fins de semana. Vivíamos uma vida simples, com um orçamento bem justo: podíamos ficar sem passeio, ou brinquedo, mas o essencial nunca faltou porque minha mãe compensava tudo com muito amor. E sempre teve personalidade: foi uma guerreira, determinada a nos dar boa educação e disciplina. Não abria mão de nos matricular em escolas de qualidade. Acompanhei sua luta pedindo bolsas de estudos em colégios particulares. Como não tinha como pagar, oferecia os serviços do buffet. Nunca vi minha mãe reclamar: ela tem uma fé inabalável na vida e lida com a realidade de forma positiva. Essa determinação me ajudou a ter versatilidade para garantir meus recursos.
Aos 14 anos comecei a ganhar uns trocados, fazendo rabiolas e recauchutando bicicletas velhas de primos, para revendê-las depois. Aos 18 anos, depois de dois meses cursando Turismo na PUC de Recife, descobri que meu sonho era ser ator e resolvi ir para São Paulo. No início minha mãe ficou preocupada com questões comumente associadas à área artística – envolvimento com drogas e dissolução de valores –, mas logo depois caiu em si, confiando na educação que havia me passado. Desde criança eu a ouvia dizer: ‘A única coisa que vou deixar para vocês é ensiná-los a ter caráter.’ Então chegara o momento de provar que eu estava preparado.
Quero ser ator
Fui para São Paulo sem conhecer ninguém, para trabalhar como modelo e fazer curso de interpretação. Cheguei a dividir um apartamento com 13 pessoas, e fiquei dois anos e meio sem ver minha mãe. Foi uma época difícil, o dinheiro era curto e a gente só se comunicava por carta. Em 2002, havia sido convidado para estrear uma novela quando recebi um telefonema da TV Globo cancelando minha participação. Fiquei muito chateado e liguei para minha mãe, pois ela sempre tinha uma palavra de força.
Lembro até hoje do que ela disse: ‘Aflição costuma durar só à noite, pois de manhã vem a alegria.’ Não deu outra! No dia seguinte foi ela quem me ligou de volta avisando que recebera o telefonema de uma agência propondo um contrato de dois meses como modelo, no Japão.
Aproveitei a chance para trabalhar e curar minha frustração. No fim de 2003 já estava na Globo testando figurino. Em janeiro de 2004 fiz minha estreia em Malhação. Minha mãe acompanhou de perto essa transição radical: do anonimato para uma vida pública. Ela ficou alegre e eufórica.
Até dois anos atrás morávamos juntos: eu, ela e meu irmão, Paulinho. Agora vivemos no mesmo bairro, no Rio de Janeiro. Continuamos nos falando diariamente e ela, coruja, comenta o que ouve nas ruas. ‘Olha, o pessoal está gostando, viu?’ Minha mãe fez o que pôde e o que não pôde para que os filhos se realizassem. Sou fruto dessa estrutura familiar.”