No lugar de falar ao telefone, as pessoas estão fazendo uso de todos os extras que os iPhones, Androids, BlackBerrys e outros smartphones desenvolveram – entrar na internet, ouvir música pelo Pandora, assistir televisão, jogar games, enviar e-mails e mensagens de texto.
O número de mensagens SMS enviados por usuário cresceu por volta de 50% ano passado, de acordo com o CTIA, um grupo que rastreia o setor. No ano passado, pela primeira vez nos Estados Unidos, a quantidade de mensagens, e-mails, vídeos, músicas e outros serviços nos aparelhos ultrapassou a de ligações, dizem analistas e executivos.
"Quando apareceu, falar era a única função do celular", disse Dan Hesse, chefe executivo da Sprint Nextel. "Mas agora é menos da metade da ocupação da rede." Claro que falar ao celular não desaparecerá por completo. "Na hora que aparece uma urgência eu ligo antes de postar no twitter ou em uma mensagem," disse Kristen Kulinowski, professora de química em Houston.
Custos do setor - Ligar está mais barato do que nunca, graças à competição contra a internet sem fio. Nos últimos anos, pesquisas mostram que o crescimento médio de chamadas de voz por usuário diminuiu para apenas 3% em 2009, contra 75% em 2000.
A indústria de design de telefones já percebeu a novidade. Ross Rubin, analista de telecomunicação do Grupo NDP, disse que os celulares equipados com teclados numéricos, mais fáceis para discar, saíram da moda. Celulares touchscreen ou aparelhos de mensagens rápidas com teclados completos tomaram seu lugar. Nos novos telefones, os usuários têm que pressionar muitos botões ou passar por várias telas até conseguirem fazer uma simples ligação. "O design de celulares está cada vez menos amigável," disse Rubin.
Hesse, da Sprint, disse esperar que, nos próximos anos, os usuários de celular serão cobrados pelas informações usadas e não pelos minutos, uma previsão com a qual outros executivos da indústria concordam. As ligações estão ficando cada vez mais curtas. A duração média de uma ligação local era de 1,81 minuto em 2009, comparada com 2,27 minutos em 2008, de acordo com o CTIA.
"Tenho milhares de minutos extras", disse Zach Frechette, editor de 28 anos da revista Good em Los Angeles, que explicou que só liga pra alguém quando precisa entrar em contato imediatamente, e usa o telefone por no máximo 30 segundos. "Reduzi meu plano para o mais simples e não estou nem perto de usá-lo." Frechette disse que parte do motivo é ter um iPhone, que tem um sinal muito irregular. Mas ele passa a maior parte do seu dia passa trocando pequenas mensagens por serviços como o Gmail, Facebook e Twitter. Desse jeito, disse, "você pode responder quando lhe é conveniente, mais do que impor seu horário aos outros."
Vantagens - Outras pessoas disseram que falar ao telefone é invasivo e consome tempo, ou parecem não terem paciência para falar com apenas uma pessoa de cada vez. Preferem usar o tempo de telefone entre várias conversas, buscando as últimas novidades e atualizações no Facebook com vários amigos no lugar de só um ou dois.
"Pode-se levar mais tempo escrevendo uma mensagem do que falando no celular, mas parece menos intrometido do que uma ligação," disse Jefferson Adams, um escritor freelance de 44 anos que vive em São Francisco. Por uma mensagem, claro, ele explica: "você pode se dividir entre duas ou três conversas ao mesmo tempo."
Nicole Wahl, uma gerente de comunicações da Universidade de Toronto, no Canadá, estima que fala ao telefone apenas uns 10 minutos por mês. "A única razão para ligar para alguém hoje é se eu não tiver seu twitter ou endereço de e-mail," disse Wahl. "Como para o meu cabeleireiro, para ver se tem uma vaga de última hora, ou meus pais, para dizer que estou passando para visitá-los."
Adolescentes americanos estiveram à frente da mudança durante um tempo, transformando seus celulares em máquinas de mensagens. Mais de metade deles enviam cerca de 1 500 mensagens por mês, de acordo com o recente estudo do Centro de Pesquisas de Internet da Pew e do Projeto de Vida Americana.
Colburn, de Massachusetts, disse ter cedido aos pedidos da filha de 12 anos, Abigail, para ter um celular depois de descobrir junto com seu marido que a falta do envio de mensagens SMS dificultava seu relacionamento com os colegas de classe. "Percebemos que ela estava sendo excluída dos convites para festas", disse Colburn.
Para Colburn, as mensagens se tornaram uma maneira mais fácil de estar em contato com a filha e receber atualizações rápidas sobre seus planos para depois da escola. "Numa noite dessas, ela me enviou um SMS do andar de cima de casa me perguntando uma questão de vocabulário", disse ela, rindo. "Mas eu tracei um limite. Subi as escadas e respondi pessoalmente."