O número de idosos e a sua longevidade vêm aumentando significativamente nas últimas décadas em todo o mundo, inclusive nos países em desenvolvimento. Este fenômeno deve-se, de acordo com Neri (2001), à redução do índice de fecundidade, ao avanço da medicina que controlou as doenças ifecto-contagiosas e à melhora nas condições de higiene e saúde geral.
Apesar de todos esses avanços, o aumento do tempo de vida, nem sempre tem garantido uma melhor qualidade de vida, ou seja, a tecnologia e os avanços na área da saúde têm fornecido ferramentas suficientes para prolongar a vida das pesoas mesmo que seja desprovida de qualidade. Assim, toda a sociedade (indivíduos, família, escola e governo) se depara com algumas indagações que se constituem em um dos principais desafios a serem enfrentados na atualidade e futuro próximo: Como conciliar a longevidade com qualidade? É possível chegar em idades avançadas com saúde, autonomia e independência física?
Como já está amplamente documentado na literatura (MATSUDO, 2001; OKUMA, 2004; PAPALÉO NETO, 2002; SHPEPHARD, 2003; SPIRDUSO, 2005), o processo de envelhecimento é acompanhado por alterações biológicas, psicológicas e sociais que vêm modificar o comportamento e a maneira com que o indivíduo lida com o meio-ambiente. Dentre tantas alterações, destaca-se as perdas nos sistemas orgânicos e as consequentes reduções na aptidão física e motora que podem prejudicar a capacidade funcional dos idosos.
Apesar de todas as alterações apontadas anteriormente, Spirduso (2005) ressalta que elas não são suficientes para transformar o idoso em uma pessoa doente e dependente; nesse sentido, o envelhecimento mal-sucedido, marcado por deficiências, é quase sempre fruto do estilo de vida inadequado, desprovido de recursos de diversas ordens.
O estilo de vida corresponde ao conjunto de ações habituais que refletem os valores, as atitudes e as oportunidades na vida das pessoas, assim, a maneira com que um indivíduo vive a sua vida depende de um emaranhado de fatores que englobam a cultura, a educação, a condição financeira, as crenças pessoais, as experiencias de vida entre outros (NAHAS, 2001).
Nahas (2001) destaca ainda, que o estilo de vida é composto por comportamentos relacionados à alimentação, aos cuidados com a saúde, aos relacionamentos sociais, ao controle do stress e ao comportamento ativo. É importante destacar, que a maneira com que o indivíduo lida com esses componentes ao longo de sua existência influenciará a curto ou a longo prazo a sua qualidade de vida e bem-estar. Especificamente na velhice, período em que o indivíduos se tornam mais sensíveis devido ao processo de envelhecimento, um estilo de vida inadequado, caracterizado por situações estressantes, dores excessivas (prolongadas ou intensas), pode resultar em perda de produtividade e prejuízo nos relacionamentos sociais.
Dentre os principais comportamentos relacionados ao estilo de vida, particularmente, o estilo de vida ativo versus sedentarismo, têm merecido um importante destaque nos últimos anos, devido ao grande impacto que representam na vida e saúde das pessoas. Nahas (2001) ressalta, que apesar de tantos esforços, a promoção de estilos de vida ativos não têm sido fácil. Ser ativo fisicamente depende de determinantes de ordem biológica e cultural que envolvem fatores pessoais, psicológicos e ambientais. Apesar dos vários estudos na área, é necessário ainda, maiores investimentos em pesquisas que expliquem os fatores que influenciam o comportamento ativo das pessoas.
A falta de atividade física regular tem sido apontada como um comportamento nocivo à saúde e como determinante negativo da qualidade de vida dos indivíduos, sobretudo, de idosos. O sedentarismo pode acelerar o processo de envelhecimento, pois, acentua o declínio do VO2 max, a perda de massa muscular, a diminuição da força e flexibilidade, o aumento da massa de gordura e das doenças crônicas degenerativas. Existe hoje comprovação científica de que as pessoas ativas estão menos propensas a desenvolver certas doenças (GOLDBERG; ELIOT, 2001; MANIDI; MICHAEL, 2001; GEIS, 2003), possuem uma maior longevidade e maior expectativa de vida (SHEPHARD, 2003, SPIRDUSO, 2005).
Os comportamentos inadequados considerados nocivos à saúde podem ser controlados e modificados; basta que o indivíduo tenha conhecimentos e consciência sobre os impactos desse comportamento na sua vida e a partir daí, faça as escolhas certas, enfrente as adversidades, valorize o lazer ativo e diminua ao máximo os fatores associados ao estilo de vida negativo como à alimentação inadequada, estresse elevado e inatividade física.
Dentre a enorme gama de opções para o indivíduo se manter fisicamente ativo, a caminhada é apontada como um dos seus principais recursos. Para os indivíduos idosos ela é altamente recomendada, pois, não requer equipamentos sofisticados, o risco de lesões é baixo e não acarreta ônus e compromisso com profissionais especializados. Lima (2002) complementa dizendo que a caminhada é apontada como um dos exercícios aeróbicos mais adequados, especialmente para idosos e indivíduos portadores de doenças cardíacas e metabólicas como diabetes, obesidade e excesso de triglicérides no sangue.
O andar é uma característica motora do ser humano, e uma das principais formas de interação com o mundo. A perda da capacidade de caminhar prejudica as interações sociais e a realização das atividades cotidianas, portanto preservar a capacidade de caminhar do indivíduo idoso, é manter a sua independência física e sua autonomia.
Para Guedes (2003), pelo fato de muitos idosos não tolerarem esforços físicos de alta intensidade, a caminhada se torna um exercício muito eficiente, pois, é uma atividade simples, que praticamente todos podem praticar, e com isso tem alcançado níveis mais elevados de adesão.
Dentre tantas as vantagens apresentadas em se praticar a caminhada, ela também se faz importante por permitir ao indivíduo a prática de exercícios de maneira autônoma. Sabe-se que o profissional de Educação Física é indispensável para a prescrição adequada de exercícios físicos, mas sabe-se também que o acesso a esses serviços ainda é para uma população restrita que possui mais informações e recursos financeiros. Levando-se em conta esses pressupostos, o idoso, mais do que as pessoas de qualquer outra faixa etária, necessita de atividade física regular, e nada melhor do que a caminhada para suprir essa necessidade caso, por opção ou algum outro impedimento, não conte com um profissional especializado na área.
Levando-se em consideração o contexto apresentado esta pesquisa tem como objetivos avaliar e comparar o perfil do estilo de vida de indivíduos idosos que praticam caminhadas regulares sem supervisão com idosos sedentários do município de Apucarana-Pr.