O último aviso!
Mudança no estilo de vida é capaz de adiar consequências da doença.
Pré-diabetes - por que tão poucos veem a oportunidade de evitar,ou pelo menos adiar, as consequências da doença cegueira, problemas cardiovasculares, insuficiência renal, neuropatias?
O médico alerta: os níveis chegaram ao ponto de uma intervenção. Feito o teste de tolerância à glicose, eles estão entre 100 e 125. O diagnóstico? Pré-diabetes. Assim as sociedades médicas ao redor do mundo definem o estado prévio à instalação da doença. Paciente comunicado, riscos conhecidos. Mas por que tão poucos veem ali a oportunidade de evitar, ou pelo menos adiar, as consequências da doença: cegueira, problemas cardiovasculares, insuficiência renal, neuropatias? O conceito colabora para a ideia de que “quando a doença complicar eu cuido”. Assim, o termo pré-diabetes vem sendo alvo de críticas por alguns especialistas. Afinal, o quadro já traz comprometimento de nervos e artérias.
“Esse nome é um desserviço à medicina. Porque, de pré, o pré-diabetes não tem nada. É diabetes e já aumentou os riscos de mortalidade do paciente”, alerta Saulo Cavalcanti, diretor da Federação Latino-Americana de Endocrinologia. O ponto positivo é que esse paciente tem a chance de mudar precocemente o curso da doença.
O engajamento em se cuidar, adotando alimentação saudável e programa regular de exercícios físicos, foi tema recorrente no 73º Congresso da American Diabetes Association (ADA), que terminou ontem, em Chicago, Estados Unidos. Novas pesquisas reforçam e avançam um estudo clássico que na década passada mudou a forma de fazer a prevenção. Naquela época, o estudo “Diabetes Prevention Program” observou grupos de pré-diabéticos que adotaram diferentes estratégias de prevenção. Dieta e exercício foi a que mais impediu a progressão do diabetes, atingindo 58% de resultados positivos, contra 31% da metformina, medicamento mais indicado nessa fase da doença. Como a epidemia do diabetes tipo 2 está associada à obesidade, esse é o foco de ação. Hoje, um terço dos adultos e mais de 18% dos jovens americanos estão obesos; um em cada três deve desenvolver o diabetes tipo 2 até 2050. Enquanto 8,3% da população vive com diabetes, 35% têm pré-diabetes.
No Brasil, quarto país do mundo em número de casos, o cenário é parecido. As medidas preventivas tampouco são desconhecidas dos pacientes. Alto consumo calórico e sedentarismo têm levado milhares de jovens ao ganho de peso. E são esses hábitos que precisam ser combatidos para diminuir a doença, que anda na companhia não só da obesidade, mas também da hipertensão e da deslipidemia, a alteração dos níveis de colesterol. Adultos nesse grupo de risco devem fazer o teste de resistência à glicose anualmente.
“Se o diagnóstico for confirmado, o tratamento passa por educação e medicação. O primeiro passo é fazer o paciente aceitar que tem uma doença assintomática. O tratamento começa com a educação. O pré-diabético tem que saber que tem um problema que lesiona seu organismo de forma progressiva. Quanto mais cedo ele assumir a doença, melhores serão os benefícios. Costumo dizer que o que o diabetes leva ele não traz e, quanto mais cedo se trata, menos coisa ele leva”, diz Cavalcanti.
SUCESSO
Boca seca e urina em maior volume foram os sintomas que alertaram Ivanir Severino, de 52 anos, para o diabetes. Diagnosticado há dois anos com o tipo 2 da doença, atribui sua situação a uma vida de excessos. Procurou ajuda e começou o tratamento, mas demorou cerca de um ano para se adaptar. “É uma mudança cultural do paciente. Tive que reaprender a me alimentar e mudar meu estilo de vida”, conta. Para ele, a doença que veio com o passar dos anos poderia ter sido evitada ou adiada se tivesse tido maiores cuidados. Atualmente com 89 quilos, Ivanir chegou a pesar 106 quilos. Com o tratamento interdisciplinar (nutricionista e endocrinologista), não precisou fazer uso da insulina, apenas do medicamento oral. “Passei a gostar de mim. O diabético que muda seu hábito alimentar e pratica atividade física vai ter sucesso e uma vida mais longa”, ensina.
Foco na perda de peso e dieta
Um longo programa de intervenção no estilo de vida, focado na perda de peso, pode melhorar a qualidade de vida e reduzir as complicações no sistema circulatório, o risco de depressão e os custos do tratamento. A descoberta é do estudo Look AHEAD (Action for Health in Diabetes, ou ação para saúde em diabetes, na tradução livre), que mostrou que uma intensiva intervenção no estilo de vida reduz menos os riscos de ataques do coração e derrames do que a adoção de um programa de suporte e educação para ajudar os pacientes nessa mudança.
A pesquisa do National Institutes of Health sugere duas possibilidades de intervenção. Uma passa pelo estilo de vida, com perda de peso e atividade física. A outra é a educação em diabetes, com sessões de aconselhamento com nutricionista, profissional de educação física e psicólogos. Segundo Rena Wing, coordenador da pesquisa e professor do Alpert Medical Schools of Brown University, o avanço é a confirmação de como uma mudança mais profunda pode reduzir os riscos de mortalidade relacionada a problemas cardiovasculares, principal causa de morte entre os diabéticos.
“Nossa pesquisa mostra como adultos com diabetes tipo 2 com sobrepeso ou obesidade podem perder peso e ter vários benefícios para a saúde. Isso reforça a recomendação de que eles devem aumentar a atividade física para melhorar sua saúde”, disse Griffin Rodgers, diretor do Instituto Nacional de Diabetes dos EUA.
Outro estudo se concentrou em um grupo diferente de pacientes. Isso porque pesquisas anteriores já haviam demonstrado como uma intervenção intensiva e individualizada no estilo de vida pode reduzir drasticamente o risco de desenvolvimento do diabetes. Contudo, os trabalhos foram feitos com voluntários, revelando um alto nível de motivação. O programa MOVE! (Managing Obesity and Owerweight in Veterans Everywhere) mostra o que ocorre com pacientes do sistema público quando são comunicados de que sua garantia de saúde está atrelada a essas mudanças.
CARBOIDRATOS
Ninguém morre de diabetes, e sim do mau controle da doença. “A alimentação é um dos pontos essenciais do tratamento. O paciente precisa conhecer o que é carboidrato, nutriente que mais afeta a glicemia. Não são só os açúcares que elevam os níveis. Farinhas, legumes e outros alimentos se transformam em açúcar”, explica Natalia Fenner, especialista em nutrição e metabolismo e educadora em diabetes pela Sociedade Brasileira de Diabetes.
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