A próxima revolução no mundo da informática será televisionada e ela ocorrerá na Índia. Empresa Novatium lança o primeiro micro-computador de US$ 100. O novo aparelho possibilita qualquer pessoa com um monitor ou aparelho de televisão a possibilidade de conectar-se ao mundo da internet. O tradicional computador pessoal está com seus dias contados.
"Computadores para os próximos bilhões". Esse é o slogan da empresa que está causando frisson às grandes marcas da tecnologia mundial. A iniciativa da Novatium é redesenhar completamente o computador, baixando preços enquanto mantém a forma e as funções típicas de um PC. O preço da máquina inclui monitor, teclado e o mouse.
O baixo preço não advém de incentivos do governo ou através de filantropia, como é o caso da organização não governamental "Um laptop por Criança" (OLPC, sigla em inglês). Projeto idealizado por Nicholas Negroponte, um dos maiores gurus da tecnologia e atual presidente da ong, a OLPC teve a proposta inicial de levar o computador às crianças que vivem nas regiões mais carentes do planeta ou aos países em desenvolvimento. O preço era sugestivo: os mesmos US$ 100. Mas à medida que o projeto se desenvolveu, os custos se elevaram. Atualmente está nos US$ 140.
O modelo de Negroponte consegue atingir esse preço, em comparação com os US$ 1500 em média por um laptop comum, por conta de incentivos governamentais e doações de grandes empresas. A Intel, por exemplo, fornece os processadores. Por outro lado, a Novatium consegue essa cifra por ter desenvolvido uma tecnologia barata sem precisar de qualquer ordem de incentivos.
Para o fundador da Novatium, Rajesh Jain, à medida que o volume de produção atingir 1 milhão de unidades, o custo dos materiais para o NetTV vai baixar US$ 35, trazendo para US$ 70 o preço de venda. Para se ter uma idéia, em Julho, a empresa indiana começou um programa comercial piloto na cidade de Chennai com uma empresa de TV a Cabo. Essa operadora atende 1.500 casas. Até o fim de Dezembro, a Novatium já tinha 100 usuários. A expectativa para Março é que o número cresça para 500.
CONEXÃO - A nova plataforma, batizada como Nova NetTv e Nova NetPC, funciona simples como uma televisão. Basta plugar e ligar o aparelho à TV ou monitor qualquer. Em seguida, a área de trabalho surge e dá acesso à web, editor de texto e tocador de MP3, entre outras funcionalidades. O aparelho é uma combinação entre um computador de mesa e um servidor central. A conexão à internet é feita sem fio, o que dá ao aparelho a vantagem de gastar menos energia que uma lâmpada noturna. Não contém disco-rígido e não faz nenhum barulho. O provedor de acesso também faz parte da proposta da empresa. Com isso, eles pretendem lucar não só com a venda da plataforma, mas também provendo acesso a baixos custos. O preço do serviço: US$ 10 por usuário.
FILANTROPIA OU LUCRO - Em entrevista à Revista Newsweek, o fundador da empresa indiana, Rajesh Jain, diz existir uma diferença entre as duas propostas. Uma visa a filantropia (Negroponte) e a outra (de sua empresa) pretende o lucro, mas com vistas às particularidades do mercado indiano. Mesmo assim, a empresa indiana não encara a OLPC como seu concorrente. "Nós não operamos nem posicionamos nossa empresa contra a OLPC. Nosso público-alvo é diferente do deles", relata, em entrevista ao Diário da Manhã, o diretor de vendas e marketing da Novatium, Nashid Mishra.
Inspirado no livro best-seller A fortuna na base da pirâmide: erradicando a pobreza através do lucro, o fundador da Novatium falou que existem 10 milhões de indianos no topo da pirâmide. Eles podem adquirir um computador da mesma maneira que qualquer cidadão num país desenvolvido. 30 milhões deles estão no meio e outros 100 milhões de indianos muito pobres estão na base da pirâmide. Essa fatia do meio é que interessa à empresa. É ela que trará o lucro esperado e, ao mesmo tempo, que garante à essas pessoas acesso à internet e conseqüente saída de uma enorme gama de excluídos da era digital.
A proposta principal da empresa Novatium, através do preço baixo de sua simples plataforma de conexão à rede mundial, é dar acesso às outras bilhões de pessoas que ficaram de fora da era digital por inviabilidade financeira. "O objetivo da Novatium é prover um computador que seja financeiramente viável a todos os segmentos da sociedade. Mas primeiramente aos da classe média", afirma Mishra.
Foi preciso um quarto de século para os fabricantes de computadores no mundo inteiro chegarem aos 700 milhões de usuários. A Novatium inova ao trazer ao mundo um modelo de computador que pode duplicar o número de pessoas conectadas à rede nos próximos anos. Isso significa uma grande oportunidade de negócios não só para os novos gurus da tecnologia indiana, mas para todo o mercado mundial.
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