Em fevereiro deste ano, os iranianos, assim como o mundo exterior, lembraram os históricos acontecimentos de 1979 que levaram à queda do xá Mohammad Reza Pahlevi. As imagens da revolução que transformou o Irã em uma república islâmica não deixavam dúvidas da determinação do povo daquele país. Contra um aparato de repressão que não pensava duas vezes antes de atirar contra manifestantes civis desarmados, a população tomou seguidamente as ruas de Teerã e mudou o curso político do Oriente Médio. O movimento de 1979 mostrou que os iranianos sabem fazer uma verdadeira revolução popular contra um regime ditatorial. O povo persa provou não ter medo de mudança.
Uma semana depois da polêmica eleição presidencial que condedeu quatro anos a mais de mandato ao conservador Mahmoud Ahmadinejad, muitos manifestantes que colorem Teerã de verde começam a falar em uma nova "revolução". Não que o candidato oposicionista derrotado, Mir Hossein Mousavi, queira mudar o regime, longe disso. Mousavi é um político nascido na Revolução Iraniana, foi primeiro-ministro nos tempos do aiatolá Khomeini, e muitos de seus seguidores desfilam pelas ruas com cartazes em que sua foto aparece ao lado das dos líderes supremos Khomeini e Khamenei.
Mas Mousavi promete um Irã mais moderno, com menos restrições à forma de as mulheres se vestirem, uma administração mais profissional da economia e uma atitude um pouco mais amigável perante o Ocidente, especialmente os Estados Unidos. Seu discurso tem um forte apelo principalmente junto aos jovens, que formam a maioria da população iraniana (mais de 50% tem menos de 30 anos), resultado da política de incentivo à natalidade implementada pelo governo revolucionário. O Irã, que já não temia ir às ruas por mudança, é hoje ainda mais jovem.
Uma verdade sobre a juventude em qualquer parte do mundo é o fato de que ela costuma gostar de novidades. E as novidades tecnológicas têm sido um marco desse movimento de contestação ao resultado das eleições. O governo proibiu que a imprensa estrangeira cubra as manifestações, mas a medida não surtiu o efeito que teria uma década atrás. Se BBC, CNN e tantos outros têm seus movimentos controlados pela polícia, os próprios manifestantes viraram os repórteres. Os jovens insatisfeitos que nasceram com a revolução formaram um exército de telefones celulares e câmeras que registram cenas que o regime preferia esconder. Essas imagens têm lotado o YouTube e diariamente chegam às grandes redações do mundo afora, inclusive aqui na BBC. O regime dos aiatolás sabe que é inútil tentar controlar totalmente o fluxo de informações no super jovem Irã e parece estar esperando para saber até quando irá a resistência e determinação dos manifestantes.
A utilização da internet e outras novas tecnologias de comunicação para superar censuras locais não é novidade. Há pelo menos uma década que grupos dissidentes em nações onde há pouca abertura política recorrem ao protesto virtual ou à simples busca de informação online. Anos atrás, uma reportagem da BBC falava sobre como as iranianas usavam a internet para discutir temas banidos, como a relação com o sexo oposto. Outros países onde a possibilidade de uma oposição política organizada é praticamente nula, como a Coréia do Norte e mesmo a China, censuram permanentemente o fluxo de informação do mundo virtual. No Irã, no entanto, a informação consegue achar caminhos alternativos.
É possível que o regime iraniano se recupere da atual crise, e mesmo uma chegada de Mousavi à Presidência não mudaria significativamente a estrutura de poder no país. Mas a juventude iraniana tem mostrado que sabe muito bem como usar a sua capacidade de organização e o poder das novas tecnologias.