Quem estuda as línguas sabem muito bem que elas seguem sempre a mesma trajetória humana: nascem, vivem e morrem. Geralmente têm vida longuíssima, visto que se formaram ao longo dos séculos. Algumas se foram sem deixar sequer um vestígio; são as pobres línguas extintas. Outras tiveram, pelo menos, a sorte de serem documentadas. Algumas morreram na qualidade de línguas orais, mas ressuscitaram falando grosso como aconteceu com o hebraico. Dentre as desaparecidas ou mortas, porém documentadas, destaca-se o dalmático, língua neolatina falada outrora na costa leste do Aduático, cujo nome deriva da Dalmácia, antiga província romana. Teve dois dialetos: o ragusano, conhecido somente através de poucos documentos medievais e o velhoto, falado na ilha de Veglia. Extinguiu-se, inteiramente, como língua falada, quando morreu, em 10 de junho de 1898, seu último falante o velho Antonio Udina, vitimado pela explosão de uma mina, quando trabalhava na construção de uma estrada. Felizmente, o lingüista italiano M. Bártoli (1873-1946) teve a sorte de entrevistá-lo pouco antes de sua morte e dele recolheu muitas informações dialetais. Talvez este seja o único caso de um idioma com registro de óbito rigorosamente exato. Naquele triste dia, agonizou um precioso tesouro milenar, pois o desaparecimento de qualquer idioma significa o empobrecimento cultural do nosso Planeta.
Infelizmente, no Brasil, algumas línguas indígenas estão condenadas também ao desaparecimento. E estão nas últimas. Quem as estuda com amor, paciência, dedicação e competência é o etnolingüista Arion D’Alligna, desde os tempos que iniciou sua carreira universitária no Paraná. Incansável, ele continua lecionando e pesquisando na UNB (DF). Conforme sua última obra: Línguas brasileiras (2002), estão ameaçadas de desaparecimento os seguintes idiomas pertencentes a diversas famílias: a) Apiaká (MT), com apenas 2 falantes; b) Xetá (PR), com apenas 5 falantes; c) Koaiá (RO), com apenas 7 falantes; d) Jiama (AM), com apenas 9 falantes; e) Katawixi (AM), com apenas 10 falantes; f) Suriana (AM), com apenas 10 falantes; g) Diahai (AM), 13 falantes; h) Kanoê (RO), 20 falantes; i) Sabanê (RO), 20 falantes; j) Ofayé (MS), 23 falantes; k) Kararaô (PA), 26 falantes; l) Krenjé (MA), 30 falantes; m) Kren-akarôre (MT), 31 falantes; n) Trumái (MT), 34 falantes; o) Juriti (AM), 35 falantes; p) Aweti (MT), 36 falantes; q) Galibi do Oiapoque (AP), 37 falantes r) Metem (RO), 40 falantes; s) Jabuti (RO), 40 falantes; t) Matipu (MT), 40 falantes, u) Barasane (AM), 43 falantes; v) Karapanã, 49 falantes; x) Miriti (AM), 49 falantes y) Yebpa-masã (AM), 55 falantes.
Em conclusão: Nada no âmbito humano é eterno, porque tudo se acaba, até mesmo as línguas. Diante do irremediável, só nos resta lamentar!
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