Enquanto o governo estuda regras para regulamentar as transações de cartões de crédito e débito no país, uma outra – e conhecida – forma de pagamento volta a ganhar força no comércio. Os velhos e bons cheques já estão sendo vistos com outros olhos por lojistas que, depois de estudarem as planilhas, descobriram que os custos de aceitar cartões podem superar os riscos de inadimplência. As taxas cobradas pelas operadoras ficam, em média, em 5% no país. Há ainda o comprometimento do capital de giro da loja, uma vez que elas só recebem o valor da compra feita com cartão depois de 30 dias. E também existe a cobrança de aluguel pelo uso dos terminais (POS, ou point of sale) envolvidos nas transações, que saem por R$ 80 a R$ 200 mensais. Do lado contrário, praticamente não existe custo para receber um cheque. O que há é o risco da inadimplência, que está em cerca de 2,1% no prazo de 90 dias, de acordo com os últimos dados da Telecheque, empresa de gestão de risco e concessão de crédito com cheque.
O fortalecimento dos talões também pode ser visto na última sondagem feita pela Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG). Em junho, 66% dos lojistas entrevistados informaram que aceitam a forma de pagamento. Em maio, a porcentagem ficava em 62% e, em abril, se limitava a 58%. “Não deixa de ser uma forma de gerir o negócio”, observa a coordenadora do Departamento de Economia da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Silvânia Araújo. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Roberto Alfeu, acredita que a regulamentação das transações com cartões de crédito pelo governo se transforme em realidade em setembro. No entanto, ele confirma que há um movimento dos comerciantes a favor do aumento do uso dos cheques. “O custo é bem menor. É só o da inadimplência, se houver”, afirma.
A proprietária da Patchwork, loja de roupas femininas, Maria Regina Gonzaga, é exemplo de pequena empresária do varejo que não aceita mais cartões de crédito ou débito. Como tem uma clientela fiel, apostou no cheque como forma de pagamento e garante ter reduzido seus custos. “Não tive prejuízo nenhum, porque ofereço ao cliente os mesmos prazos dos cartões”, diz. Antes, ela pagava R$ 90 mensais pelo aluguel das máquinas para transações e ainda arcava com taxas de administração, que variavam de 2,8% para o débito e 4,8% para crédito. “Como não tenho mais esses custos, também posso oferecer preços melhores”, reforça, satisfeita com a iniciativa.
Apesar de levar na bolsa os cartões de crédito, a professora Simone de Assis não abre mão do cheque. Ela usa principalmente a modalidade pré-datada, para ganhar um prazo extra no pagamento das compras do dia a dia, e também do supermercado ou da farmácia. O cartão de crédito, em sua opinião, costuma ser mais prático, mas os talões podem ganhar espaço. “Tudo vai depender do custo do cartão. O cheque pode ganhar a preferência, já que as folhas, até um determinado número, não são cobradas pelos bancos.”
Visível
Para o vice-presidente da TeleCheque, José Antônio Praxedes Neto, a expansão no volume de transações com cartões é visível. Mas ele lembra que, no Brasil, os cheques ainda estão na liderança quando se observa a movimentação em dinheiro, gerada por eles. No ano passado, os cheques movimentaram R$ 2,5 trilhões . A alta foi de 13,5%, ou R$ 280 bilhões, frente ao registrado em 2007. Já os cartões de crédito movimentaram R$ 215 bilhões. O aumento foi de cerca de 16,5%, ou R$ 41 bilhões.
“Para este ano, estamos prevendo uma alta de 9% para a movimentação com cheques”, afirma Neto. Ele diz que, enquanto o tíquete médio de compras com as folhas distribuídas em talões ficou em R$ 835, em 2008, o dos cartões de crédito se limitou aos R$ 86. “No Brasil, a renda ainda é baixa. A maioria da população ganha perto de R$ 1 mil e tem um limite de crédito no cartão perto dos R$ 300. Geladeiras, fogões e materiais de construção custam bem mais que isso”, explica. (Colaborou Marinella Castro)