O idioma português recebeu o titulo equivocado de “última flor do Lácio”, no dizer de Olavo Bilac (1865-1918). Sua certidão de batismo prende-se ao século XII, enquanto o romeno, legítimo caçula, surge no século XVI, com a carta de Neacsu. De qualquer forma, com esta ou aquela idade, a nossa língua apresenta recursos expressivos, múltiplos e sutis, exigindo dos seus usuários natos – ou naturalizados – muita atenção no seu registro e uso – escrito ou oral – para não caírem em armadilhas expressionais, conforme alguns exemplos apontados: Certos substantivos são auto-suficientes, plenos, completos e, por isso mesmo, dispensam alguns tipos de adjetivação porque ela é desnecessária. Exemplo: Fulano goza de boa saúde. Não existe má saúde. O termo saúde já exprime um valor positivo. Basta dizer: Fulano goza saúde. Ouvimos, também, com muita freqüência: Dou-lhe minha palavra de honra! Ora, quem assim se expressa, dá-nos a impressão de que possui outro tipo de palavra, ou seja, aquela de desonra. O correto seria: dou-lhe minha palavra. E pronto!
Muitos e muitos exemplos eu poderia arrolar nesta crônica sobre construções ilógicas ou contraditórias. Algumas reflexões sobre a língua portuguesa são, geralmente, feitas nos Cursos de Letras, sob a rubrica de exercícios de metalinguagem e, em muitos casos, o nosso idioma é virado pelo avesso. Fazem-nas levando-se em conta o estilo da língua e do escritor (idioleto).
Infelizmente, os meios de comunicação de massa, conhecidos mediante o termo genérico de mídia (< originária do inglês media que, por sua vez, advem do neutro plural do latim médium = meio). Pois bem, a mídia vem contribuindo muito para divulgar e fixar valores positivos, mas, infelizmente, às vezes difunde alguns negativos. Não faz muito tempo que a população brasileira aprendeu a usar e abusar do sintagma: poluição sonora. (Houve um tempo em que no sistema de ensino do país, havia um estudo gramatical denominado análise lógica). Esse exemplo bem representa a falta total de lógica, pois não é o som que é poluído, e sim o silêncio. E mais: Reparem que, em todos os outros exemplos, o agente é a poluição e o respectivo alvo são substantivos: polução do ar, poluição da água, poluição do meio-ambiente etc. Em todos estes exemplos, aparece sempre a preparação de para expressar o complemento de especificação, que nos remete ao caso genitivo latino e, no outro, só aparecem: Um substantivo + um adjetivo (poluição sonora). Por que foram desmontar o ensino brasileiro, dele retirando o latim, berço de nossa língua?