Duvido! Os países de cultura surgente dão-me sempre a triste impressão de que são órfãos em todos os sentidos. Nações adolescentes, elas não passam de rios sempre em busca dos próprios leitos. Ainda não dispõem, infelizmente, de uma consciência plena de seus valores e, por isto mesmo, não conseguem encontrar soluções adequadas – a curto ou médio prazos – para muitos de seus problemas cruciais e crônicos. São, portanto, países iniciantes, principiantes, novatos, incipientes, nascentes e, se mais sinônimos houvesse na bela língua portuguesa para exprimirem o gênese cultural, eu os registraria nesta crônica, só para relembrar as melancólicas palavras do filosofo espanhol Ortega y Gasset (1883-1955) que, numa memorável conferência proferida no Ateneu de Madri, ao referiu-se aos países latino-americanos exclamou: “Pobres países de eternas auroras!” Reparem, caros leitores, o determinismo triste desta assertiva: Os países do nosso Continente por serem ainda muito jovens, tão cedo não vão atingir o zênite!
Ora, se aquela desalentadora constatação for uma realidade, quando teremos, em nosso país, algumas organizações sócio-político-culturais capazes de auscultar os nossos anseios e resolver alguns problemas sociais de suma importância? Será que vivemos num deserto, será que – em determinados setores – vivemos ainda numa nação cuja maioria dos seus dirigentes parece não ter olhos de enxergar e ouvidos de escutar? Para exemplificar a nossa velha falta de caixa de ressonância sócio-político-cultural, vou-lhes apresentar um triste exemplo que é um convite à reflexão por parte daqueles ainda preocupados com a coisa pública brasileira. Em 1937 – já lá vão mais de 90 anos! – o saudoso escritor baiano Jorge Amado (1912-2001) publicou um interessante romance: Capitães de Areia, cuja tessitura narrativa – minuciosa e denunciante – prende-se ao mundo marginal de jovens que atuavam nas praias de Salvador (BA), praticando não sei quantas diabruras, com predominância de freqüentes furtos e golpes astuciosos aplicados em viandantes descuidados. Verdadeiros embriões de futuros bandidos! Eram aprendizes autodidatas do crime! Pobres sobreviventes marginais!
Pois bem, se naquela época o nosso país já possuísse uma boa caixa de ressonância sócio-político-cultural, qual teria sido a atitude instantânea dos nossos governantes, aqueles que se intitulam responsáveis pela coisa pública? Diante daquela grave denúncia social, seria constituída, imediatamente, uma comissão especial constituída de sociólogos, psicólogos, médicos, assistentes sociais, membros das igrejas, todos empenhados numa cruzada de solidariedade humana, isto é, solucionar um problema social a fim de que o mesmo não atingisse uma situação incontrolável. Talvez não teríamos, hoje, de forma tão lastimável e agravante, os problemas que envolvem os meninos de rua, os ratos de praia, os arrastões etc. Não! Ainda não temos – pelo menos em termos gerais – uma verdadeira e tão sonhada CAIXA DE RESSONÂNCIA SÓCIO-POLITICO-CULTURAL. Até quando?