"No futuro, vai ser indiferente onde o conteúdo está sendo consumido: na TV, na internet ou no celular. Não vamos perder a audiência para a web, pelo contrário, vamos aumentá-la em outras mídias." A frase é de Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, em entrevista ao Link. E é com esse pensamento que as emissoras vêm investindo para ter cada vez mais o conteúdo da programação em seus sites na internet.
Complementos desta reportagem:
• O nascimento da geração Lost
• O canal que passa seu programa na hora que você quer
• A TV está ficando com a cara da internet...
• ...E a internet está ficando com conteúdo de televisão
A Globo publica na rede grande parte das reportagens dos telejornais, de vídeos com lances do futebol, além de trechos de novelas e programas de entrevistas. Tudo é gratuito com exceção de alguns programas na íntegra, como as novelas. Não há uma transmissão contínua da programação ao vivo , mas volta e meia, uma partida vai ao ar online.
Já a TV Cultura tem colocado ao vivo a gravação de programas como Roda Viva, Ao Ponto, entre outros, antes mesmo de eles serem transmitidos na televisão. "Queremos conquistar o jovem que escapou da televisão ou que não é mais tão fiel à TV linear a que estávamos acostumados", diz Ricardo Mucci, coordenador do núcleo de novas mídias da emissora.
Na semana passada, foi a vez da RedeTV reestruturar seu portal, agora batizado de RedeTVi. Uma equipe centralizada, de 60 pessoas, cuidará do novo site que reúne vídeos de reportagens e de programas de esporte e de entretenimento, além de transmissão ao vivo de programas da grade do canal.
TV POR ASSINATURA
Dentre os canais fechados, a Fox se destaca com o Mundo Fox (http://www.mundofox.com.br/). A página conta com 800 horas de vídeo. Dentre o material, há episódios das primeiras temporadas de 24 Horas, Prison Break, Os Simpsons e Family Guy.
A Warner Channel exibiu a websérie Sorority Forever. Sony, AXN e People & Arts fizeram algumas experiências com programas nos seus sites, mas acabaram suspendendo a transmissão por streaming. Especula-se que o motivo foi a pressão das operadoras de assinatura, que veem aí um mercado concorrente.
É por esse motivo que o Mundo Fox trabalha principalmente com arquivo. Para um episódio novo entrar no site, pode demorar de um a cinco meses. "Isso acontece porque nosso modelo de negócio é gratuito. Estudamos a hipótese de fechar um acordo com as operadoras, para que os assinantes tenham acesso a um conteúdo premium dentro do Mundo Fox", diz Hernán López, presidente e CEO da Fox International Channels.
O material exclusivo seria o acesso ao novo capítulo de um programa, um dia depois de ele passar na televisão.
Entrevista: André Mantovani
Lançado há dois anos, o Fiz-TV, do Grupo Abril, prometia fazer uma revolução dentro da internet e da televisão brasileira. Era um portal de vídeos combinado a um programa televisivo.
Sua proposta era servir de peneira para a imensidão de vídeos amadores que circulam pela web. Uma equipe iria selecionar trabalhos feitos por internautas, remunerá-los e ainda dar espaço para eles no canal da TVA. O objetivo era virar uma referência da "geração YouTube" de filmmakers brasileiros.
Há duas semanas, a Abril fechou o Fiz, cujo site fica no ar até 20 de julho - e pode ressuscitar (com outro nome) na web, vinculado à MTV, também do grupo Abril. Para explicar o que deu errado, o Link conversou com André Mantovani, Diretor Geral dos canais.
O que deu errado? O comunicado oficial diz que "foi pela dificuldade em romper uma barreira praticamente intransponível que existe no Brasil para a distribuição de canais pagos".
Foi isso mesmo. Os canais de TV paga vivem de duas coisas: de publicidade e da receita de assinatura. Uma coisa acaba alavancando a outra. Como o Ideal e o Fiz estavam restritos à TVA e à Telefônica, nunca conseguimos chegar a isso.
Não dava para continuar com o www.fiztv.com.br? Ou um portal de vídeos não é algo rentável?
Esse tipo de site não dá dinheiro em nenhum lugar do mundo! O próprio YouTube não consegue ganhar dinheiro. A internet pulveriza a audiência. É a teoria da "cauda longa". O acesso a uma grande rede de entretenimento (no caso, a internet) não gera volume suficiente para conseguir um rendimento a partir da venda publicitária.
Qual será o legado do Fiz? Não será fechada uma porta importante que as produtoras independentes tinham para mostrar seus trabalhos?
Os nossos diferenciais em relação aos outros portais eram ampliar acesso a um conteúdo de qualidade e a exposição na TV. E ainda remunerávamos os produtores. A ideia foi bem sucedida e está em estudo a hipótese de trazer esse conceito para a MTV (da Abril). Teríamos uma abrangência nacional. Nós cobrimos, com ela, 32 milhões de lares no Brasil. Seria uma chance maior de mostrar filmes e documentários feitos por produtores independentes. Percebemos que há uma produção de qualidade muito grande e apreciamos isso. A gente quer continuar a valorizar o conteúdo que fica perdido na internet.