Não gostaria de usar, freqüentemente, o espaço deste portal para nele registrar fatos que nem sempre dignificam a nossa cultura surgente. Aliás, numa crônica passada, fiz um convite aos meus leitores para que refletissem sobre a condição do nosso país emergente e, por isto mesmo, desprovido de determinados valores indispensáveis ao nosso desenvolvimento pleno, harmonioso... Hoje, gostaria imenso de chamar-lhes a atenção para um péssimo exemplo de desmazelo cultural, pois os habitantes de uma comunidade já amadurecidos no seu devir histórico sabem muito bem como comportar-se em determinadas situações. Quando ainda não se chegou à condição de distinguir o certo do errado, possivelmente iremos nos esbarrar na desalentadora situação de estarmos ainda no gênese cultural. Eis aqui um triste exemplo: Quando eu estudava no Rio de Janeiro – e já lá vão muitos anos! – sempre que podia, dava um salto até Petrópolis (RJ), a cidade das hortênsias, imperialmente maravilhosa em todos os sentidos: clima ameno, gente hospitaleira, ruas limpas e bem ajardinadas, quase não se viam mendigos com mão estendidas, enfim, um espaço desenvolvido num país subdesenvolvido ou em via de desenvolvimento. Pois bem: nessas minhas visitas periódicas àquele recanto paradisíaco, nunca deixei de revisitar a curiosa CASA DE SANTOS DUMONT, pois nela – tudo por tudo – anunciava o gênio criativo “dumontiano”: uma escada com alternância de degraus que reduzia o esforço de quem nela subia, uma ampla sala totalmente rodeada de camas encostadas nas quatro paredes, fechando um quadrado no qual apenas o centro ficava vazio para que o genial inventor pudesse passar de um lado para o outro sem problema. Enfim, todas as camas emendadas rodeavam o quarto! E mais: Em cada uma delas, logo depois dos colchões, haviam gavetas nas quais se guardavam lápis, papéis e borrachas, os quais – eu suponho – ficavam à disposição do inventor quando este, em seus solilóquios, era atingido pela inspiração que somente os espíritas e parapsicólogos conseguem explicar!
Não me lembro de tudo o que ali se encontrava para testemunhar o grau de inteligência do “pai da aviação”. Mas ainda posso muito bem registrar outra invenção: Uma engenhosa descarga, no sanitário, por sinal, construido fora do resto da casa. O vandalismo brasileiro, talvez fruto de nossa incipiência cultural não permite a preservação do que precisa ser preservado. Por exemplo: Aquela sala que bem poderia ser chamada de “espaço da inspiração” foi desmontada e muitos objetos que ali se achavam eu não mais os encontrei quando de minha última visita a Petrópolis. Para onde teriam sido levados? Não, meus senhores: sociólogos, historiadores, oradores ufanistas, aqueles que sempre nos meteram nos ensinaram que somos um povo brasileiro! Não, ainda não! Somos apenas uma população brasileira! Estes termos são aparentados, mas não são, de maneira alguma, sinônimos perfeitos!
Queiram desculpar-me por este desconfortável exercício do pessimismo, espécie de desabafo inoportuno! E tudo recai naquela velha situação irremediável: O Brasil só conta, a partir do seu achamento, em 1500, com apenas 20 (vinte!) gerações! O Brasil ainda está nascendo!
