Na história das idéias e doutrinas, assunto muito importante, devido à sua universalidade, incluem-se aquelas reunidas por Alan Kardec (1804-1869), pseudônimo de Léon Hyppolite Denizard Rivail, notável educador e responsável, nas últimas décadas de sua existência planetária, por aquilo que se habitou denominar de codificação do espiritismo, isto é, compilação de uma filosofia e uma ciência com implicações religiosas. O aspecto filosófico desta doutrina apóia-se diretamente na ontologia, ou seja, apresenta respostas inteligentes às velhas perguntas: Quem somos? O que somos? Por que aqui estamos? Para onde vamos? Por sua vez, o seu aspecto cientifico vem sendo examinado e testado em diversos setores da ciência em geral, inclusive no da parapsicologia, que, até o presente momento, só tem confirmado os respectivos postulados, embora, às vezes, alguns fatos sejam apenas batizados com outros nomes, num simples jogo taxonômico. Ao lado dos que insistem em negar-lhe a condição de religião, vem juntar-se a opinião daqueles que sustentam ser o kardecismo um caso especial, pois não se trata de uma religião no sentido tradicional do termo bastante petrificado, e sim de uma autêntica metareligião. Mircea Eliade (1907-1986), romeno, um dos maiores historiadores das religiões, em sua monumental obra: Tratado de história das religiões, bem como no Dicionário das religiões, recentemente traduzido para o português, não inclui o espiritismo na lista das religiões. De qualquer forma, quer seja estritamente uma filosofia e ciência – ou uma religião com um novo sentido – a figura do responsável pela sua codificação continua despertando muito interesse e curiosidade. Um assunto que sempre me chamou a atenção: Uma comissão da qual fazia parte o dramaturgo francês Victorien Sardou (1831-1908) e seu filho, ambos “médiuns”, entregou ao Prof. Rivail (posteriormente Allan Kardec) uma coleção de 50 (cinqüenta !!!) cadernos com registros de manifestações ou experiências consideradas fenômenos paranormais, os quais a parapsicologia moderna tenta explicar usando, às vezes, mediante o seu jargão cientifico mas que o espiritismo, bem perto da realidade, os classifica de manifestações espíritas, ou seja, algo explicado pela lógica e racionalidade.
Retomemos o fio da meada: Allan Kardec recebeu aquela opulenta coleção e deve ter anotado o máximo que pôde, dando prosseguimento às suas experiências e repetidas observações, por meio de testemunhas mediúnicos. Mas, afinal, onde foram parar aqueles preciosos 50 cadernos? Não sei porquê, não se divulga muito aquele fato anterior ao “Livro dos espíritos” (1857), considerado a certidão de batismo da doutrina. Na minha condição de historiador, costumo valorizar o documento – oral ou escrito – e, por isto mesmo, gostaria de compulsar aqueles importantes relatos porque – quem sabe? – eles poderiam trazer novas luzes – se não fossem pelo seu caráter quanto à essência, poderiam ser do ponto de vista estatístico – justamente nesta hora em que se pretende valorizar as proto-raízes duma doutrina espiritualista muito importante, pois o nosso planeta enfrenta uma crise muito séria! Sem precedente!
Onde se encontra aquela interessante coleção de cadernos?