Josie Romero é uma menina de oito anos de idade que vive no corpo de um menino. A história foi registrada no documentário Age 8 and wanting a Sex Change (“Oito anos e querendo mudar de sexo”, em tradução livre), que será transmitido na segunda-feira (19/10) pela emissora de TV inglesa Channel 4. O filme mostra como a curta vida de Josie é marcada desde cedo pela disparidade entre mente e corpo. Mais especificamente, desde que ela começou a pronunciar as primeiras palavras. “Quando ela começou a falar, sempre dizia ser uma menina”, contou a mãe, Venessia, em entrevista à equipe de documentaristas.
Os pais passaram bastante tempo corrigindo Josie: “Não, você é um menino chamado Joey Romero”. Aos quatro anos ela insistia: “Eu realmente sou uma menina”. Aos cinco, não deixou mais que cortassem os seus cabelos. E, aos seis, foi diagnosticada como transexual por um especialista em gênero.
De acordo com os pais, o lado feminino sempre se mostrou mais evidente. Nos três primeiros anos de vida, Josie tentava transformar os brinquedos de garotos em brinquedos de menina. A brincadeira preferida dela era enrolar cachecóis na cintura e fingir que eram saias. A mãe conta no documentário que começou a comprar roupas de ambos os sexos e deixá-las no guarda-roupa, permitindo que a filha escolhesse livremente. A garota sempre optava pelas vestimentas femininas.
À princípio, os pais pensaram que Josie, à época Joey, era homossexual. “Nos sentíamos confortáveis com o fato de ter um filho gay. Pensávamos ‘Desde que ele seja feliz, tudo ficará bem’”, lembra Venessia, 42 anos. “Ele parecia meio andrógino aos cinco anos e as pessoas perguntavam se nós tínhamos um menino ou uma garota”, diz a mãe. Mas a pequena transexual não tinha dúvida. Corrigia todos os que a chamavam de homem.
A situação trouxe bastante dor de cabeça para a família, que morava até o ano passado no Japão. O pai de Josie, Joseph Romero, é engenheiro das Forças Armadas dos Estados Unidos. Ele afirma no filme que teve muita dificuldade em entender o caso. Primeiro, sentiu que havia perdido um filho. Mas, depois, se deu conta de que havia ganhado uma filha. A partir daí, ele conta que os dois melhoraram o relacionamento.
Preconceito na escola
Atualmente, a família vive no Arizona (Estados Unidos), mas antes da mudança, o casal havia adotado uma criança chinesa, Jade, dois anos mais nova que Josie. Segundo os pais, as duas sempre se interessaram pelas mesmas brincadeiras.
Nos EUA, a certidão de nascimento, o passaporte e outros documentos de Josie foram trocados para torná-la legalmente do sexo feminino. Mas isso não a impediu de ser vítima de preconceito. “Infelizmente a escola local barrou a matrícula de Josie. Então, optamos pelo ensino domiciliar para ela e a irmã”, contou a mãe.
Cirurgia
Josie recebe atendimento médico e psicológico. Quando completar 12 anos, deve ingerir hormônios femininos para evitar a puberdade masculina. Segundo a mãe, a menina já sabe que terá de passar por uma cirurgia de mudança de sexo quando for adulta. A decisão parece ter deixado a criança satisfeita. “Estou feliz por todos saberem que sou uma garota e não preciso mais fingir que sou menino. Para mim, ser menina é bom porque eu posso cozinhar, deixar os cabelos compridos e usar brincos”, enumera Josie.
A pequena costuma discursar em grupos de apoio para famílias de transexuais, inclusive crianças. De acordo com Venessia, a filha se sente muito bem em compartilhar a própria experiência e ajudar pais e filhos que passam pela mesma situação. “A coisa mais importante é amar seu filho incondicionalmente. Não importa o que aconteça, você ainda tem uma filha ou um filho, que precisa do seu apoio”, resume.
Com informações do canal National Geographic e dos jornais The Sun, Daily Mail e Telegraph