Isto mesmo! Em torno de nós – ou nas páginas da história – quantas e quantas vezes vamos deparar fatos que nos deixam boquiabertos. Alguns deles, como é o caso que vamos relatar, surpreende-nos muito mais, porque estão alicerçados no fanatismo, procedimento negativo e degradante! Existem alguns tipos de fanatismo, embora nenhum deles seja digno de entrar na nossa biografia, sobretudo se quisermos continuar merecendo o prêmio de pertencermos ao rol dos racionais: Há fanatismo religioso (responsável por inúmeras guerras!), fanatismo político (semeador da má convivência social) e, até mesmo, fanatismo esportivo (responsável pelas agressões físicas em nossos estádios). Hoje, vou lhes contar um esquisito fato histórico relacionado com o fanatismo religioso. E não se esqueçam de que, qualquer um dos fanatismos anteriormente mencionados, é o deplorável resultado de nossa involução espiritual e / ou cultural. O fato é o seguinte: Na história do Brasil até um santo foi promovido a militar: Santo Antonio foi Capitão, ou seja, a imagem do Santo, no Rio de Janeiro, já tinha este posto no ano de 1710 (!!!) e recebia o seu soldo desde D. João V, quando a imagem ainda era tenente e estava num convento de Recife. Foi promovido a Capitão (só para render mais uns cobres), pelo então governador Francisco Castro de Morais, em 1710, por ter “ganho” a batalha contra Duclerc ( ? - 1711). A exploração fanática só veio acabar quando, muitos anos depois, isto é, em 1910, o então Ministro da Guerra (Emídio) Dantas Barreto (1850-1931) exigiu a procuração do santo ou a sua presença à Pagadoria da Guerra, para receber, pessoalmente, seu soldo (mamata).
Só então, com grande celeuma, protestos, maldições e pragas dos fanáticos – a Cúria romana deixou de abiscoitar o “Soldo do Capitão Santo Antonio” na referida Tesouraria da Guerra. Por causa do dinheiro que o santo deixou de receber, houve muitos conflitos, além de procissões de desagravo, com uma gigantesca mobilização da população devota! Foram 200 (duzentos!!!) anos que receberam, indevidamente, uma soma de dinheiro que já em 1910, correspondia ao mais alto posto militar! Mas nunca, jamais, em tempo algum, devolveram o dinheiro embolsado! Este é o mais escabroso, astucioso e estranho exemplo de fanatismo religioso, que bem pode ser catalogado como uma velha prática de corrupção estimulada pelo próprio fanatismo!
Aqui seguem as referências históricas:
A suspensão do bizarro soldo (mamata) a Santo Antonio, em junho de 1910 – ainda bem! – acha-se inserido no livro do escritor e chanceler José Carlos de Macedo Soares: Santo Antonio Militar no Brasil, (pág. 94), bem como no Ministério da Guerra (Pagadoria), cujo registro do Santo encontra-se no livro 483, nº 5, com a seguinte rubrica: OFICIAIS REFORMADOS, pág. 311.
Convem seja lembrado ainda que o Santo (de madeira), na data de 15 de novembro, já havia atingido o posto de General.
Antes – pasmem os meus caros leitores! – foi de praça de pré a Capitão Comandante do Coronel Crispim da Cunha (cf. Anais do Rio de Janeiro, 5, cap. 40).
O fanatismo, irmão gêmeo da irracionalidade, não tem limites sob qualquer forma em que ele se apresente!