Ações sociais conquistam espaço no perfil e no coração dos seguidores no Twitter. De tuitada em tuitada, cresce a pilha de livros para doação no Natal obtida em campanha organizada por professora mineira
"Movimentos (como o #forasarney) ficaram restritos ao Twitter. O bacana da campanha (de doação de livros) é que ela parte do mundo virtual, mas pretende gerar frutos palpáveis no mundo real" - Laura Werneck, coordenadora da campanha Doe um livro no Natal
A meta de 100 mil livros arrecadados até janeiro pode parecer pretensiosa. Quem vê a professora Laura Furquim Werneck magrinha, aparentemente tímida, pode até duvidar de que a campanha que ela organiza consiga o objetivo. Mas a ação surpreende: surgiu à mineira, daquele famoso jeito como quem não quer nada, e foi crescendo como uma bola de neve montanha abaixo. Hoje, no Twitter, as mensagens do perfil Doe um livro no Natal são retuitadas por celebridades como Serginho Groisman e Maria Rita – a partir disso, o número de seguidores engajados explode. Até o fechamento desta edição, 4.009 pessoas seguiam o perfil. A cantora, aliás, acaba de oferecer um show à causa: quem for à apresentação que ela fará no Rio de Janeiro, dia 19, paga meia- entrada se doar um livro para a campanha. “A gente brinca que ela é a madrinha da causa”, diz Laura.
Foi assim que a bola de neve do Doe um livro no Natal já virou avalanche, como a organizadora explica: “Cada vez que uma celebridade como (os apresentadores) William Bonner, Serginho Groisman e o (José Luiz) Datena citam a campanha, ganhamos instantaneamente de 100 a 200 seguidores”. A visibilidade que os famosos têm no Twitter é paradoxo da ferramenta, em teoria calcada na possibilidade de dar voz a todos: celebridades usam o microblog como se fosse a TV – apenas falam, quase não escutam e continuam formando opinião. O que importa aos agitadores de causas como a Doe um livro... é o barulho que esses famosos ajudam a fazer.
O microblog também é alvo de críticas daqueles que acreditam que movimentos surgidos no Twitter nascem, crescem e morrem por ali mesmo. Foi assim com o #forasarney. O presidente do Senado continua onde estava antes que mensagens com esse tópico tomassem a rede. “Movimentos assim ficaram restritos ao Twitter. O bacana da campanha de doação de livros é que ela parte do mundo virtual, mas pretende gerar frutos palpáveis no mundo real”, defende Laura. Para isso, a batalha envolveu parcerias fundamentais.
O Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte, e prédios das secretarias estaduais de Educação de todo o país viraram postos de coleta, graças à adesão do Conselho de Secretários Estaduais de Educação (Consegue) e o apoio do Ministério da Educação (MEC). A Droga Raia e o Pátio Savassi também abraçaram a causa e recebem as doações.
De tuitada em tuitada, 40 mil livros já estão na soma (a campanha não aceita livros didáticos). O destino das doações depende do local em que os livros forem entregues: os das secretarias vão para as escolas públicas que mais precisarem; os da Droga Raia, para creches, escolas e bibliotecas públicas próximas às unidades; os do Pátio Savassi, para projetos apoiados pelo Sempre um papo. A ONG Visão Mundial e a Fundação Abrink coletam para creches e bibliotecas apoiadas por elas.
O que une todos os parceiros é a divulgação eletrônica, praticamente sem nenhum custo, além das conexões à internet de que já dispõem os envolvidos. Laura conta que a campanha foi criada inicialmente por Heber Dias Souza (@prosapolitica). “No início era só um blog, e quando colocamos no Twitter, ganhou essa dimensão. Cada pessoa leva a ideia para a sua própria rede e assim a coisa vai se expandindo”, conta Laura. A campanha ganhou fôlego também quando José Luiz Goldfarb, curador do Prêmio Jabuti, aderiu, como divulgador.
A criação do twibon da campanha, por exemplo, surgiu a partir de algum colaborador – que Laura nem conhece pessoalmente. Os twibons são inserções gráficas na imagem dos usuários, que servem para chamar a atenção, de cara, para a causa, gerando curiosidade. No caso do Doe um livro..., é a logomarca da campanha, inserida, com alguns cliques, à direita da foto do avatar. Cada usuário pode inserir o twibon, a partir do perfil da causa no Twibon.com. E o melhor: o endereço faz tudo para você, é só mandar sua foto que ele entrega uma nova imagem, já com o selinho. (http://twibbon.com/join/DOE-UM-LIVRO-NO-NATAL-3).
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"O potencial é muito grande, porque retuitar uma mensagem é algo muito simples. Basta repassar esse conteúdo adiante e você já integra a campanha" - Mauro Helme, criador do Twitcausa, perfil que indica causas sociais e ecológicas no microblog |
TODAS AS CAUSAS Com cerca de 430 mil seguidores, o @twitcause, perfil criado em São Francisco (EUA) há quatro meses, é um fenômeno. Livremente inspirado no sucesso do correspondente americano, o @twitcausa, primo brasileiro, começa a agitar a tuitosfera nacional. A nossa versão, independente da americana, ainda engatinha: tem duas semanas de vida e 1.757 seguidores. Em comum, a vontade de dar visibilidade a causas sociais e ecológicas que podem ganhar fôlego e adeptos no Twitter.
“No perfil internacional, eles se dedicam semanalmente às causas. Nossa atualização é mais constante, preferimos um modelo mais dinâmico”, compara Mauri Helme, empresário de São Paulo que criou o Twitcausa a partir de um desejo de realizar um trabalho voluntário somado à falta de tempo. Agora, ele reserva alguns minutos, algumas vezes ao dia, à tarefa de garimpar campanhas e iniciativas nobres perdidas Twitter afora.
Chamar a atenção em um universo dominado por piadinhas é um desafio, segundo Helme: “Percebemos que 90% do uso do Twitter é voltado para entretenimento, diversão mesmo. Tanto que as pessoas mais seguidas são os humoristas. Por isso, nos surpreendemos com tanta adesão em tão pouco tempo”. Ele ressalta que o mais importante é o alcance verdadeiro das mensagens, medido pelos cliques nos links indicados. A maior parte dos seguidores do Twitcausa, de acordo com Helme, vão além dos 140 caracteres, e clicam nos endereços recomendados, para se informar melhor.
A exemplo da edição americana, a versão brasileira deve ganhar também um blog que ancore as recomendações. Enquanto isso não ocorre, o Twitter é a única plataforma em que a ideia está presente. Para Helme, já seria suficiente: “O potencial é muito grande, porque retuitar uma mensagem é algo muito simples. Basta repassar esse conteúdo adiante e você já integra a campanha. E quanto mais seguidores você tiver, mais longe pode ir esse retuíte, maiores as chances de uma causa alcançar uma pessoa que precise.” O Twitcausa recebe sugestões de causas a serem seguidas, pelo e-mail [email protected].
E SE EU NÃO USO O TWITTER?
O microblogging mais famoso do mundo foi criado em 2006, mas teve um boom este ano. Mensagens curtas, de no máximo 140 caracteres, dão o recado. Para começar a usar o Twitter, vale conferir este simpático manual, disponível em http://tinyurl.com/o7wj3e
QUE @ É ESSE?
No Twitter, esta é a maneira de identificar os usuários. Substitua o @ pelo endereço twitter.com/ e você chegará ao perfil da pessoa (Ex: @prosapolitica), no microblog. A cada vez que alguém escreve seu nick com o @ na frente, você recebe a mensagem.