O Google iniciou uma crise política entre EUA e China na noite da última terça-feira depois que anunciar em seu blog oficial que está cogitando a abandonar suas operações no país oriental por conta de possíveis ataques cibernéticos “sofisticados e coordenados” feitos contra contas do Gmail de ativistas dos direitos humanos no país.
Sem mencionar o governo local, a gigante da web afirma que iniciou suas investigações em dezembro, depois que duas contas tiveram seus dados acessados por um “grupo hacker”, e identificou que “dezenas” de outros defensores dos direitos humanos na China, EUA e Europa estavam tendo seus dados monitorados por terceiros: “essas contas não estavam sendo acessadas por brechas de segurança, mas sim por causa de malwares instalados nas máquinas dos usuários”, completa o texto.
“Esses ataques, combinados com as tentativas ao longo do ano passado em limitar a liberdade de expressão na web, nos levam a concluir que devemos refletir a respeito da viabilidade de nossas operações e negócios na China. Decidimos que não estamos mais dispostos a continuar a censurar nossos resultados no Google.cn e assim, ao longo das próximas semanas, discutiremos com o governo local quais são as possibilidades de oferecermos resultados não-filtrados e dentro da lei. Nós reconhecemos que isso potencialmente pode significar o final das operações do Google.cn e de nossos escritórios no país”, afirma o post, escrito por David Drummond, chefe jurídico da gigante da web.
Diante da tradicional intransigência do governo em relação ao assunto, analistas políticos apontam que a saída do Google do mercado local seja “iminente”, o que fez suas ações caírem 2% no mercado internacional.
Em atividade no país desde 2006, por muitas vezes o Google foi criticado por defensores da liberdade na web por sua convivência pacífica com a censura imposta a qualquer conteúdo potencialmente negativo ao governo local, em que qualquer resultado indexado por sites de buscas precisa ser aprovado pelo Departamento de Informação e Propaganda antes de ser disponibilizado ao público.
A agência de notícias Reuters reporta que logo depois do comunicado o Google.cn começou a exibir resultados anteriormente bloqueados, como, por exemplo, as fotos do massacre na Praça da Paz Celestial em 1989. De Honolulu, Hillary Clinton, secretária de Estado do governo norte-americano afirmou que o caso “levanta preocupação e perguntas” e diz esperar que líderes do governo chinês se pronunciem sobre o caso.
Reação chinesa
A rede de notícias BBC diz que em seu blog oficial o chefe de desenvolvimento do Baidu, sistema que atualmente detém cerca de 60% das buscas chinesas (e que chegou a ficar fora do ar por algumas horas no começo dessa semana por conta de um ataque) afirma que a decisão do Google foi estimulada sobretudo por seu fracasso em dominar o mercado no país: “O que o Google diz me deixa doente. Se eles querem desistir por interesses econômicos, então que o digam”, escreveu.
Com 340 milhões de navegantes, o mercado de buscas na China movimentou US$ 1 bilhão (R$ 1,75 bilhões) em 2009, sendo que deste montante US$ 600 milhões (R$ 1 bilhão) foram diretamente para os bolsos da companhia norte-americana, que tem apenas 31% do mercado por lá.