TRATAMENTO AMERICANO DISPENSADO AO LIXO HUMANO
O prisioneiro americano Gene Hathorn, condenado à morte nos Estados Unidos por ter assassinado seu pai, a madrasta e o filho dela, concordou em doar seu corpo para uma instalação artística - em que ele viraria comida de peixe - caso sua última apelação fracasse.
O artista chileno Marco Evaristti, baseado na Dinamarca, pretende congelar o corpo de Harthorn para depois transformá-lo em alimento de peixes.
Na instalação, os visitantes poderão alimentar peixinhos dourados em um aquário enorme com a comida feita a partir do corpo de Hathorn.
Harthorn, de 47 anos, está no corredor da morte desde 1985 e Evaristti pretende incluí-lo em seu projeto sobre pena de morte.
A idéia, diz o artista, é mostrar o barbarismo do sistema penal americano, em que um prisioneiro á condenado à morte e depois passa anos à espera do cumprimento da sentença.
Tortura ( Mais que justa e sob medida!)
"É uma tortura, são duas punições, primeiro quando são presos e isolados, depois, quando são executados. Por que não os executam imediatamente?", perguntou ele em entrevista à BBC Brasil.
Evaristti procurou Hathorn depois de pesquisar quem eram os prisioneiros há mais tempo no chamado corredor da morte, aguardando sua execução.
"Fiz meu primeiro contato com ele por cartas", disse Evaristti à BBC Brasil. "Em fevereiro deste ano, fui visitá-lo em sua prisão, no Texas".
Segundo o artista plástico, ao receber a proposta, Hathorn ficou em silêncio alguns segundos e depois sorriu: "É uma grande idéia", teria dito ele, que aceitou fazer parte do projeto.
"Tive a idéia de transformá-lo em comida para peixes porque, nos papéis do processo de Hathorn ele é chamado de lixo humano. Neste sentido, pensei em reciclá-lo, reciclar seu corpo transformando-o em alimento. Se o sistema americano o chama de lixo, achei que seria uma grande idéia reciclá-lo em algo positivo."
Além disso, diz o artista, a idéia é uma forma de redimir a si próprio. Em 2000, Evaristti chamou a atenção pública com uma exposição no Trapholt Art Museum, de Copenhague, onde os visitantes tinham a opção de matar peixinhos dourados colocados dentro de liquidificadores.
"Naquela ocasião, eu dei à audiência a possibilidade de matar os peixes. Agora, dou a eles a possibilidade de alimentar os peixes. É uma mudança de 180º", disse ele.
Evaristti, no entanto, está tentando ajudar o prisioneiro vendendo desenhos dele para financiar a apelação. Hathorn, por sua vez, já fez um testamento em que nomeia o artista como herdeiro de seu corpo, mas ainda não está claro se, pelas leis americanas, isso será concedido.
O artista plástico diz estar em contato com uma empresa alemã que teria se prontificado a transformar o corpo de Harthorn em comida de peixes, após sua eventual execução.
Se ele não for executado, Evaristti afirma que vai procurar outro prisioneiro.
"Mas, infelizmente, acho muito difícil que ele consiga uma terceira apelação. E o sistema carcerário do Texas não iria reconhecer que está errado depois de tanto tempo", afirma.
A exposição, ainda sem local definido, consistiria em um enorme aquário com peixes dourados, onde os visitantes poderiam alimentá-los com os restos do corpo.
A instalação faz parte de um projeto maior de Evaristti sobre a pena de morte.
Em agosto, ele apresentou em uma feira de moda em Copenhague, a coleção The Last Fashion, de roupas para serem usadas pelos prisioneiros na hora da execução. As vestes serão enviadas pelo correio para prisioneiros nos Estados Unidos.
Neste mês, ele deverá expor a cama que criou, em formato de cruz, para condenados à morte, na Feira de Arte de Copenhague.
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