Desde o fim do regime militar, período marcado pela censura e pelos limites nos direitos e liberdade do indivíduo, vem se consolidando um fenômeno oposto: o regime da liberdade total. Vivemos uma tendência exagerada de defesa de direitos e da supremacia da liberdade individual em detrimento do bem-estar coletivo.
Não vejo crescer na mesma proporção a valorização de deveres, das obrigações, de responsabilidades, da ética e dos limites que delimitam e em que se organizam as comunidades, sociedades, nações.
É no equilíbrio de direitos e deveres que reside o exercício da cidadania plena, ética, madura, inteligente, verdadeiramente justa e solidária. Mas estamos do lado oposto.
Aumentam estudos, leis, estratégias e incentivos para subverter conceitos e valores que deveriam ser intransponíveis, pois são justos e divinos. Cada vez mais o pensamento coletivo se organiza, mesmo inconscientemente, para defesa do direito à liberdade do indivíduo e, infelizmente, até mesmo do que rouba, mata, estupra, invade terras; da criança que não pode trabalhar, mas é livre para uma infância de crimes e vícios.
Não haverá democracia, felicidade, prosperidade e ordem ou progresso sem equilíbrio entre direitos e deveres dos cidadãos. E, por cidadão, leia-se também os ilustres representantes de milhões de brasileiros.
Sim, somos iguais em direitos e deveres, sem distinção ou privilégios para governantes. Nesse sentido, as leis da Responsabilidade Fiscal e da Ficha Limpa são vitórias marcantes, divisoras de água para o resgate do equilíbrio. Mas é pouco, muito pouco, e nossa redenção ainda está longe.
Roberto Lima Filho é doutor em odontologia e ortodontia pela UFRJ
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