Para entender os desafios é preciso falar do que mudou nos últimos 10 anos e o que mudou tudo foi o aparecimento da internet.
Antes dela, uma TV local e uma rádio local só podiam ser captadas em sua cidade e cidades vizinhas. Um jornal local só atingia a tempo os leitores destas cidades. Os outros liam as notícias com o atraso dos correios.
Para se comunicar com uma pessoa de outra cidade voce tinha que usar o telefone, muito caro, carta ou telegrama. Documentos e fotos tinham que ir pelos correios. E as fotos ainda tinham que ir a um laboratório para ser reveladas. Nem sei o que é isso...
Primeira mudança: geográfica
Antes, para que voce pudesse saber das notícias locais e regionais, teria que estar no mesmo ambiente geográfico do jornal, rádio ou tv. Este era nosso limite.
Hoje voce pode receber esta mensagem na China e sem sair de casa para comprar o jornal. O veículo de comunicação que era local, hoje é mundial. Seu público está em todo lugar e em qualquer lugar.
Segunda mudança: meio físico
Antes, para ler um jornal era preciso que alguém o imprimisse em papel ver TV, só num aparelho de tv rádio, só num receptor de rádio, fotos tinham que ser reveladas, livros impressos.
Hoje você pode ler um livro, ver TV, ouvir rádio e ler as notícias na internet, até juntando tudo isso num mesmo site, o que me leva à...
Terceira mudança: tecnológica
Antes um jornal só podia ter texto e fotos, na maioria das vezes em preto e branco por causa dos custos, que também limitavam o número de páginas, a tiragem e a frequência com que nas bancas, diário ou semanal.
Hoje o jornal A Região, que foi o primeiro do interior a ter site na internet, em sua edição online pode ter quantas páginas e fotos quiser, coloridas. Também não existe limite de tiragem nem é preciso levar o jornal até a banca - o leitor pega ele em casa, na hora em que achar melhor.
A Região também passou a ser diário na internet, atualizando suas notícias todos os dias, desde 2000, em parceria com o jornalismo da rádio Morena FM.
Por falar em rádio, a Morena FM, que sempre foi tarada por tecnologia, já tinha sido a primeira da América Latina a ter a programação 100% feita em CD, dois anos antes de qualquer outra no Brasil.
Com a chegada da internet, ela foi a segunda do estado a transmitir online e a única que fazia isso 24 horas ao vivo. Transmitiu de 1997 a 2003, parou, mas volta em 2007.
Quarta mudança: interatividade
Antes o público recebia a mensagem passivamente e não tinha nem como opinar sobre ela. Hoje voce pode me enviar um email com sua opinião sobre uma notícia ou postar isso num blog. O público pode opinar, sugerir, indicar a outros, guardar, modificar e passar adiante.
Quinta mudança: público desconhecido
Antes era fácil conhecer o público, hoje existe uma geração que nasceu nos anos 80, 90 e já cresceu usando somente email, web, chat, mp3 player, câmeras digitais. E prefere comprar só online.
Estas mudanças foram altamente positivas para os veículos de comunicação, apesar de a maioria dos empresários da área, tanto aqui quanto no exterior, não ter entendido estas mudanças. Ao invés de aproveitar e desbravar este novo meio, eles preferiram lutar contra ele.
Um exemplo são os jornais tentando impedir o Google de listar suas manchetes. Lutam contra uma coisa que só faz aumentar seus leitores. Vai entender...
Todas estas mudanças também trazem muitos desafios, que eu prefiro entender como oportunidades, porque é isso o que elas são. Vamos ver por tipo de veículo.
Tevês
A TV é o meio que mais perde audiência para a web, desde 2000, quando a geração internet passou a ignorá-la. Primeiro perderam porque a maioria navega à noite, justamente no único horário em que a TV tem uma audiência forte, entre 19h e 21h.
Hoje perdem audiência também para videos, seriados e telejornais veiculados na internet. Só faltam as novelas. Aí será a decadência geral da TV aberta. E vai acontecer.
O desafio das tevês é continuar com esta audiência no novo meio, só que elas estão atrasadas e quase nenhuma transmite sua programação online. Isso deu margem para o aparecimento de sites como o YouTube e será difícil recuperar esta audiência.
Outro desafio é a hemorragia de verbas de publicidade, que estão migrando em massa da tv para a internet. E na internet as tevês ainda não têm audiência suficiente para oferecer aos anunciantes. Estão perdendo esta verba para os YouTube da vida e os portais.
Outro problema é que a tv nunca interagiu com o público e terá que mudar toda sua filosofia para isso. É o meio que mais deve sofrer nos próximos anos para superar o desafio.
Rádios
O rádio é o meio que mais cresce e se aproveita da internet. Primeiro porque ele tem uma tradição de interagir com o público, o que facilita entender e servir a geração internet.
Ao transmitir na web ele ganha uma audiência nova sem perder a atual, tem alcance mundial, novas ferramentas para interagir (como email, formulário online e chat), pode exibir video em seu site, entrando na área da TV reforça sua marca fora da região, facilita parcerias com artistas e gravadoras tem novas formas de promoção e um faturamento extra na web.
Tudo isso sem perder audiência regional, que é o que vem mostrando as pesquisas. A nova audiência está vindo de outros lugares, sem afetar a tradicional.
O desafio para o rádio é fazer uma programação online separada da local, porque está servindo públicos distintos. Não é difícil fazer uma programação única que agrade os dois grupos, mas os comerciais locais atrapalham ao transmitir online.
Uma rádio local se sustenta só com a verba dos comerciais que veicula. Na internet, o público até gosta de ouvir alguns, para ter aquele gostinho de estar ouvindo ao vivo uma rádio de fora, mas não na quantidade que uma rádio precisa para se manter.
Outro desafio é treinar os locutores para entender que não estão falando para "dona Maria da Mangabinha" e sim para um público mundial, o que inclui dar a hora local junto com a hora GMT, referência para os outros países.
Outro é adequar notícias e dicas de eventos. A solução que a Morena FM busca e vai acabar conseguindo é ter a mesma programação mas substituindo, em tempo real, os blocos de comerciais locais por outro conteúdo na internet, com notícias e eventos do resto do país.
Mais um desafio é produzir e incluir video, serviços e reforçar o noticiário para impedir a perda de audiência online para outros sites. A parceria da Morena FM com A Região ajuda nisso.
Jornais
Apesar de tudo o que ganha com a internet, os jornais de âmbito nacional ou estadual vêm perdendo muito por causa da internet.
Só para dar um exemplo: em 2000 os jornais Folha de São Paulo, Estadão, O Globo e O Dia tinham uma tiragem de 1 milhão e meio de exemplares por dia. Hoje eles não passam de 300 mil por dia e a vendagem se concentra no final de semana.
Seu público migrou para a internet, que já é o principal meio usado pelas pessoas para saber as notícias diárias.
Já os jornais regionais, como A Região, por enquanto só ganharam - e muito - com a web. Por ser semanal, não teve perda alguma de leitores que, aliás, aumentaram no caso de AR.
Além disso, A Região ampliou seu público com mais 120 mil leitores únicos na internet, 35 mil só em Salvador, e passou a alcançar pessoas no mundo inteiro. Em meses de pico chega a 200 mil leitores únicos online.
O desafio dos jornais é conseguir que as empresas anunciem na edição online, porque o ritmo de migração de leitores para a internet não está sendo acompanhado pela publicidade. Vai chegar uma hora em que o jornal terá que eliminar a edição impressa diária, ficando apenas com a do fim de semana.
A Região podia ter edições impressas online faz tempo mas, há mais de dez anos, acredita que o futuro é jornal diário só na internet e semanal impresso.
Conteúdo
Um desafio comum a todos os meios é o conteúdo. O público da internet é composto pelo mesmo público que você conhece regionalmente, mais uma geração que só usa o meio internet.
Eles nunca mandaram uma carta, um fax ou um telegrama. Nunca viram tv nem ouviram rádio em aparelhos normais, nunca leram um jornal ou revista impressos.
Este público requer parte do conteúdo diferente do normal, com assuntos e formato que não cabem no meio tradicional mas casam bem com a web. E querem uma interatividade maior, com chance para se expressar.
Os meios também precisam adotar uma linguagem adequada à internet: curta, objetiva, fácil de ler, que possa ser entendida rapidamente. Neste ponto, a vantagem é do pessoal do rádio, que sempre escreveu assim.
O desafio é achar e treinar quem possa escrever desta maneira com eficiência. Parece fácil, mas é muito mais difícil enxugar um texto que escrever um romance.
Como você pode ver, na verdade estes desafios são a oportunidade de desbravar um meio novo e fantástico, de somar público, alcance e faturamento. De brigar de igual para igual com empresas infinitamente maiores que voce, mas que não têm a mesma visão.
Vai se dar melhor quem se apaixonar pelo meio, como eu me apaixonei em 1996, época em que apareceu o primeiro provedor em Itabuna, a Nuxnet, de meus amigos Teodoro Pires e Antônio Lagariça.
Você tem que se apaixonar pelo que faz, porque sem paixão... você não chega a lugar nenhum.
Marcel Leal, presidente da Rede Morena.
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