Quem não gosta de uma boa "teoria da conspiração" que atire a primeira pedra. Todos nós adoramos imaginar se aqueles eventos marcantes – e às vezes estranhos – não teriam um motivo superior ou uma força maior por trás. Este "Efeito Dominó" trata justamente de um destes casos.
Nos anos 1970, a Inglaterra era um chamariz de escândalos (não que tenha mudado muita coisa). Um destes envolveu uma filial londrina do banco Lloyds que fora furtada, com o produto do crime não sendo nada menos que o conteúdo dos cofres pessoais dos clientes. Após dois dias de falatório sem fim na imprensa local sobre o assunto, ninguém mais mencionou o caso. Não se sabe se alguém foi preso pelo crime nem nada.
Só essa premissa já daria, nas mãos certas, um filme de assalto razoável. No entanto, os roteiristas Dick Clement e Ian La Frenais ("Across The Universe") resolveram apimentar um pouco mais a situação, envolvendo o furto com fotos comprometedoras de membros do alto escalão do governo, ativistas políticos que não passam de criminosos, pornográficos e agentes secretos do MI-5 (ou seria do MI-6?). Esse "samba do Mulder doido", apesar de complexo, jamais fica confuso resultando em um filme bastante proveitoso – e baseado em fatos reais, com algumas liberdades artísticas.
Boa parte deste resultado positivo da produção deve-se a seu protagonista. O inglês Jason Statham está se tornando o mais ativo dos heróis de ação dos anos 2000 e, com certeza, o mais carismático. O ator lembra muito o Bruce Willis em seu auge com "Duro de Matar", com um ar de homem comum com quem o público-alvo destes longas realmente pode se identificar. Na fita, Statham interpreta Terry Leather, criminoso aposentado e atual dono de uma oficina e revenda de automóveis.
Pai de família endividado (e com o nome na lista negra de um agiota), Leather é convidado por uma velha amiga para um último serviço no ramo da bandidagem, aquele que seria o seu grande golpe, justamente o assalto ao Lloyds. Essa amiga, a sensual ex-modelo Martine Love (Saffron Burrows), na verdade tem outros objetivos em mente para o furto.
Para o trabalho, Leather reúne um grupo de amigos de confiança, cada um com sua especialidade. Dentre eles destacam-se o veterano golpista Major (James Faulkner), o atrapalhado Dave (Daniel Mays), o recém-casado Eddie (Michael Jibson) e Kev (Stephen Campbell Moore), que arrasta uma nada discreta asa para Martine.
O modus operandi da gangue é bastante simples: contando com as plantas do banco e tendo alugado uma loja vizinha ao lugar, eles pretendem cavar um túnel que desembarcará justamente no cofre (moradores de Fortaleza-CE devem se lembrar de algo parecido…). No entanto, os simpáticos escroques vão acabar descobrindo que pegar a muamba é uma coisa, arcar com o que vem atrás dela é um jogo completamente diferente.
Como nos bons filmes de assalto, o que carrega o filme é a interação entre os personagens vistos em cena, fazendo com que o público ignore que está torcendo pelos criminosos. Com Statham criando um protagonista bastante simpático aos olhos do espectador, o longa já marca bons pontos junto à audiência. O resto do trabalho é completado pelo excelente elenco de apoio, que se mostra bastante a vontade em plena camaradagem. Além disso, a química entre o ator principal e a sensual Saffron Burrows gera uma ótima tensão sexual, compatível com o clima da fita.
Outro fator que ajuda o público a se importar com o bando de escroques são os ótimos vilões que surgem no caminho de nossos anti-heróis. Um deles é "o rei da pornografia do Soho" Lew Vogel, um homem metido a mafioso e com dores horríveis no rim causadas por uma pedra. O personagem é interpretado por David Suchet, que realiza um trabalho eficaz.
Já o pseudo-revolucionário negro Michael X, uma figura real, é vivido com segurança exemplar pelo ator Peter De Jersey e é, sem dúvida, o personagem mais cruel visto em cena. Jersey faz com que seu vilão seja realmente mau, causando asco ao público desde sua primeira aparição, algo perfeito para o vilão típico que a fita pede.
O diretor Roger Donaldson realiza um bom trabalho na construção do clima de tensão durante a projeção. Responsável pelo ótimo "Treze Dias Que Abalaram o Mundo", Donaldson se sai bem nesta história de assalto, não querendo revolucionar a roda, mas sempre jogando um plano mais ousado aqui e acolá. Como se trata de um filme "de época", o longa conta com uma fotografia diferenciada, muito bem realizada por Michael Coulter ("Simplesmente Amor"), que capricha no tom granulado e ligeiramente envelhecido do longa.
Quem também ajuda e muito para dar o tom "setentista" da fita é o designer de produção Gavin Bocquet (da nova trilogia "Star Wars") e o departamento de figurinos, comandado por Odile Dicks-Mireaux. A edição o filme, que ficou por conta de John Gilbert ("O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel"), é bastante redonda, jamais deixando com que a produção perca seu ritmo. Quem deixa cair um pouco a peteca é o compositor J. Peter Robinson, já que não temos nenhuma trilha mais marcante durante a fita, o que é uma pena.
Um pequeno detalhe que pode irritar alguns fãs de Jason Statham é o fato de o ator ter apenas uma cena de luta durante todo o filme. No entanto, aqui vemos o inglês exercitar mais a sua interpretação do que os músculos e, mais uma vez, ele se sai muito bem.
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