São Paulo, 20 (AE) - A tendência já estava no ar. O namoro entre o mercado de vendas de música digital e o de telefonia móvel dava sinais de que tinha futuro desde os tempos do ringtone. Agora, fabricantes de celulares entram com tudo no comércio de música.
À medida que o telefone celular passou a incorporar a função de MP3 player - melhorando a performance a cada novo modelo lançado -, foi só uma questão de tempo para que os fabricantes tomassem as rédeas das negociações, fazendo com que as gravadoras pouco a pouco perdessem o medo de vender música online.
O primeiro passo foi dado por Nokia e SonyEricsson, que acabaram de lançar dois serviços que mudam completamente a forma de vender música digital. As duas fabricantes de celulares acabam de inaugurar seus projetos Comes With Music e Play Now Plus, que abandonam a venda de canções uma a uma e inauguram uma tendência já anunciada como o futuro do mercado de registros musicais: o modelo de assinatura.
Ambos os serviços permitem que os usuários façam download ilimitado de todo o catálogo das quatro maiores gravadoras do mercado, além de selos independentes, em troca de um pagamento fixo. São, literalmente, milhões de canções que podem ser baixadas a qualquer momento, tanto para o celular quanto o computador.
E, melhor, a música disponível nesses serviços pode ser ouvida em outros aparelhos, não apenas naquele em que foi baixada. Nos dois serviços, no entanto, há uma pegadinha: só quem comprar um tipo específico de celular terá acesso ao novo formato.
A SonyEricsson lança o PlayNow Plus apenas para o celular W902, mas não vincula o novo serviço à compra do aparelho (embora ele só funcione, a princípio, nesse modelo de celular). O Plus é uma evolução do serviço PlayNow Arena (loja online que vende MP3 um a um), mas não substituirá o serviço anterior, ou seja, quem quiser pode comprar cada música. Mas é uma opção para quem ouve muitas músicas o tempo todo.
"Não podemos tratar todo consumidor como um fanático por música", explica o gerente de vendas global da empresa, Anders Runevald. "Há quem queira 5 mil novas por mês, mas também há quem só queira cinco". A assinatura, na Suécia, custa 99 coroas suecas (R$ 30), mas permite que o ouvinte fique com apenas 300 MP3 no celular após o cancelamento do serviço. O PlayNow Plus, por enquanto, só funciona no país de origem do fabricante, a Suécia, mas até o final de 2008 estará em outros países da Europa.
No caso da Nokia, o sistema só está funcionando no Reino Unido, por enquanto. Clientes que comprarem o modelo 5310 do fabricante ganham de brinde a permissão para baixar durante um ano qualquer música do catálogo de majors (gravadoras multinacionais) e independentes. Passado esse período, mesmo quem não quiser continuar pagando terá suas músicas já baixadas garantidas - elas não serão deletadas automaticamente, como acontecia em serviços semelhantes, mas não tão ousados, lançados no passado.
A empresa finlandesa vende músicas no formato de áudio WMA, que é proprietário da Microsoft e conta com sistema de proteção de cópias, o DRM (leia mais na página L7). Mas a companhia afirma que a tendência é de que as gravadoras passem a fornecer material desprotegido, que possa ser tocado em qualquer plataforma.
Já no caso da SonyEricsson, só o MP3 que vai para o celular fica restrito ao aparelho, mas o download garante duas cópias da música escolhida - a versão que vai para o PC não tem DRM e pode ser transferida para qualquer outro dispositivo de áudio, seja um pendrive ou um aparelho de som que toca MP3.
Apesar desse modelo de negócio não ser exatamente inédito no Brasil (leia mais na página L7), as duas companhias afirmam que os serviços chegarão ao País no ano que vem. No Reino Unido, o celular com o Comes With Music fica cerca de 50 libras (R$ 190) mais caro, mas, por variações locais como impostos e custos de direitos autorais, não há previsão de quanto custará no Brasil.
"A oferta do Comes With Music é boa para todas as partes. Para a indústria de música, que sofre com o declínio do meio físico (o CD), e para o consumidor, que passa a ter acesso garantido e seguro às músicas sem precisar caçar música na internet e correr o risco de baixar arquivos infectados", diz Fiore Mangone, gerente de produtos da Nokia no Brasil.
O modelo não seria a solução definitiva para a crise da indústria musical, mas um passo em direção a um mercado mais complexo e plural. "Acreditamos que o futuro do mercado de música gravada no mundo e no Brasil irá definir um leque bastante amplo de modelos de negócio", diz Paulo Rosa, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Disco (ABPD).
"Quanto mais a música se aproximar da idéia de serviço e se distanciar da de mercadoria, mais estaremos nos aproximando de um novo modelo de remuneração. Mas acredito que, para ter alguma chance contra a pirataria, ainda é preciso resolver a questão do DRM, expandir o catálogo para além das majors e permitir que o usuário interaja com o conteúdo musical através de uma licença livre", diz Ronaldo Lemos, representante do Creative Commons no Brasil.
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