Uma nova teoria desenvolvida em universidades americanas e na Universidade de Kent, na Grã-Bretanha, sugere que as guerras são tão antigas quanto a humanidade e também tiveram um papel importante na nossa evolução.
Com avanços científicos, não apenas os mais fortes sobrevivem
A teoria que desafia a idéia predominante de que a guerra é um produto da cultura humana - e, por isso, um fenômeno recente - foi apresentada em outubro na Universidade do Oregon, nos Estados Unidos, e publicada na mais recente edição da revista New Scientist.
Para o psicólogo evolucionista Mark Van Vugt, da Universidade de Kent, o quadro projetado pela teoria é "bem claro". "A guerra tem estado conosco por pelo menos várias dezenas, talvez centenas de milhares de anos", afirma.
Van Vugt acrescenta que as guerras teriam atingido até mesmo o ancestral comum entre humanos e chimpanzés. "(A guerra) exerceu uma pressão significativa na seleção da espécie humana", diz o pesquisador.
Fósseis de humanos primitivos possuem sinais de ferimentos que poderiam ter sido causados em batalhas. E, nos dias de hoje, estudos sugerem que as guerras são responsáveis por 10% de todas as mortes entre homens.
VIOLÊNCIA
Primatólogos já sabiam há algum tempo que a violência letal e organizada é comum entre grupos de chimpanzés, os parentes mais próximos dos humanos. Mas, seja entre chimpanzés ou humanos primitivos, a violência entre grupos não se parece com as batalhas modernas.
A violência entre grupos tende a se concretizar na forma de pequenos ataques, que subjuguem o inimigo e ofereçam pouco risco de o agressor sair ferido - o que abriria a possibilidade de expansão territorial.
Vários cientistas que defendem essa teoria também afirmam que os homens com corpos maiores e mais musculosos, que os tornam mais aptos para a batalha, evoluíram uma tendência de agressão fora de seu grupo, mas de cooperação dentro do grupo a que pertencem.
"Existe algo inevitavelmente masculino a respeito da agressão de coalizão - homens se unindo a homens para agredir outros homens", afirma Rose McDermott, cientista política da Universidade de Stanford, na Califórnia.
Segundo a cientista, a agressão entre mulheres tende a ser mais verbal do que física e, na maioria dos casos, é individual.
De acordo com John Tooby, psicólogo evolucionista da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, isso ocorre devido à história da evolução humana, em que homens pareciam mais bem preparados para a violência física.
Tooby acrescenta que outra justificativa é o fato de mulheres terem mais a perder com a violência física, já que geralmente têm a responsabilidade de criar os filhos.
HORMÔNIOS
Para o antropólogo Mark Flinn, da Universidade do Missouri, respostas orientadas para o grupo também ocorrem nos hormônios.
O pesquisador observou que um time de críquete da ilha caribenha de Dominica passava por um aumento dos níveis de testosterona quando vencia um time de outro vilarejo.
Mas esse aumento dos hormônios - e, possivelmente o comportamento dominante que gera - não era observado quando os homens venciam um time de seu próprio vilarejo.
De acordo com Flinn, o aumento no nível do hormônio não foi detectado quando uma mulher, possível parceira, estava acompanhada de um amigo.
"Nós realmente somos diferentes de chimpanzés devido ao nosso relativo respeito pelos relacionamentos de outros machos", afirmou o antropólogo.
Ao contrário dos homens, chimpanzés não vão à guerra porque não têm o pensamento abstrato necessário para perceber que são parte de um grupo que vai além de seus associados mais diretos.
Mas os cientistas apontaram uma vantagem no passado guerreiro do ser humano.
"O que é interessante quando se fala em guerra é que nos concentramos no mal que a causa", afirmou Toobby. "Mas (a guerra) requer um alto grau de cooperação."
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