A poesia autêntica para sobreviver terá que reassumir a simplicidade de um verdadeiro vaso de cerâmica, com pequenos retoques maviosos pela mão de algum discreto e paciente ourives da palavra.
Recusará os artifícios e o jogo de luz e sombra - mais de sombra que de luz - capazes de escurecer os olhos e perturbar a alma do leitor desprevenido. A poesia para sobreviver tem que ser o puro gesto - permanente e manso - de levantar o véu das coisas, sem fazer muito barulho, pois toda e qualquer exacerbação da palavra só faz perturbar a transparência e a plenitude da comunicação verbal.
A poesia para se salvar, nesta hora de tanta escuridão e tresmalho, tem de ser despojada, revestindo-se apenas do surpeendemente necessário e da espontânea recorrência à linguagem como esta fosse um autêntico jogo de clarear o mundo circundante, um simples convite - sem forçar - para que se possa olhar para a realidade sob vários ângulos, uma espécie de caleidoscópio único, irrepetível, inconfundível. A poesia para resistir a todo e qualquer tropeço de gostos e de escolas literárias terá de ser convincente por si mesma, e nunca pela insistência e direcionamento da crítica interessada.
"E se mais houvera, lá chegara..."
O horizonte da poesia terá sempre o seu ponto de realce: O ritmo e a melodia frásica que são a espinha dorsal do bom poema.
A poesia, válida por si mesma, simplesmente é aquela que sabe ser poesia harmoniosa por excelência, inconfundivelmente sedutora.
Enfim, para que a poesia seja plena em todos os sentidos é mister auscultar Vicente Huidobro (1893-1948), eminente escritor chileno instaurador do criacionismo (1916) que exerceu considerável influência sobre a poesia hispano-americana, além de ser esta escola literária latino-americana a única que repercutiu no espaço intelectual da Europa. Sua assertiva apóia-se no seguinte conceito: "O bom poeta não é o que canta a rosa, mas aquele que faz com que a rosa cante por si mesma".
Enfim, o bom poeta é aquele que sabe tirar da melhor forma possível tudo de si mesmo tal qual o bicho da seda, sob a forma de uma progressão crescente.