A bibliografia sobre o hábito de ler é muito vasta e praticamente todos os seus ângulos já foram vistos e revistos. Mas nunca seria demasiado relembrar que a leitura faz parte da evolução cultural da humanidade, a partir da invenção do alfabeto. Aliás, por falar em alfabeto, aguarda-se com ansiedade a publicação, entre nós, de um amplo estudo da origem e evolução do alfabeto, obra bem elaborada pelo estudioso goiano Adovaldo Fernandes Sampaio. Voltando à vaca fria: o hábito de ler é um traço cultural relevante entre os povos sedentários e, sobretudo, urbanizados, o que não acontece com os nômades (ciganos, lapões etc).
No caso dos ciganos, estes são ágrafos e abominam a palavra escrita. Quanto às populações rurais, estas apóiam-se muito mais na oralidade, isto é, os seus conhecimentos gerais transmitem-se de boca a ouvido. Tenho acompanhado com muita atenção as longas discussões sobre o fraco hábito da leitura no Brasil, Vejo que a maioria dos pesquisadores não leva muito em conta o fato de o Brasil, até bem pouco tempo, ser um país eminentemente agrário. Muitas de nossas cidades interioranas ainda são verdadeiros exemplos de comunidades "rurbanas".
O hábito da leitura pode ser tipificado a grosso modo da seguinte forma: a) a de simples prazer estético, por exemplo, aquela dos textos poéticos b) a de buscar apenas informações imediatas para a elaboração de qualquer trabalho de natureza diversa: cientifica, tecnológica ou literária c) a leitura de auto-ajuda para aprendermos a superar situações existenciais difíceis ou desafiadoras d)a de buscar tão-somente valores para o fortalecimento de nossa fé religiosa ou de nossas posições filosóficas e) Aquela do exercício de metalinguagem aplicado à língua portuguesa do Brasil com profundas reflexões sobre a nossa norma culta, inclusive com o enriquecimento do vocabulário para aquele que deseja conhecer as inúmeras possibilidades expressivas do nosso idioma f) e, finalmente, aquele tipo de leitura distrativa ou para matar o tempo, por exemplo, a que se faz durante as viagens longas, nas noites de insônia ou nas ante-salas dos consultórios médicos e odontológicos.
Costume salutar, precioso arrimo para atenuar o desconforto da solidão, sobretudo na velhice desacompanhada. Para Valery Larbaud (1881-1957): "Vício impune, a leitura", apesar de ele, ao longo de toda a sua vida, ter sido um leitor não punido. Melhor seria dizer: abençoado hábito que nos permite dialogar com uma infinidade de interlocutores, brindando-nos sempre novos conhecimentos que saciam a nossa curiosidade de seres planetários com muita sede de autoconhecimento!