O poder da imaginação não tem limite, o que nos faz lembrar a costumeira assertiva: Fulano tem uma imaginação fértil, correspondendo ao que os nossos irmãos argentinos preferem dizer: uma imaginação frondosa. Alguns escritores, em quaisquer partes do mundo, usam e abusam deste valor e chegam aos desbragados confins do sonho e da fantasia, sacrificando, na maioria dos casos, o mínimo compromisso com a verossimilhança. Foi o que aconteceu, no fim do século XIX, com o ficcionista irlandês (Abrahan) Bram Stoker (1843-1917) ao elaborar o seu famoso ou famigerado romance vampiresco: Conde Drácula (1897) que ultrapassou as fronteiras da realidade histórica e trabalhou apenas com a hiperfantasia. O seu romance - diz-se - foi inspirado na discutida figura de Vlad Tepes, (O Empalador), voivoda do País Romeno (Tara Româneasca), posteriormente conhecida como Transilvânia. Este personagem, apesar de muito severo, foi um grande defensor de seu país e, por conseguinte, de seu povo oprimido pela desconfortável dominação turca. Abominava os desonestos e, segundo a tradição oral, de sua ira não escaparam sequer alguns de seus ministros. Vale a pena reafirmar que apesar de seus gestos pouco cristãos, conforme testemunhos da oralidade, tinha pelo menos uma obsessiva virtude: a sede de liberdade, tendo sabido lutar por ela, conseguindo algumas vitórias em sangrentas batalhas contra os dominadores.
O apodo de Drácula foi herdado do seu pai Vlad II, Dracul (= o dragão, mas também o diabo). Este personagem era tão áspero quanto o filho, conforme a opinião dos camponeses romenos. Mas o nome pode estar ligado ao fato de ter sido membro de uma sociedade cristã romana chamada Ordem do Dragão.
A ficção de Stoker não tem qualquer compromisso com a verossimilitude, haja vista que na nobiliarquia romena nunca se usou o título de conde.
Visitei o castelo Bran, suposta residência do Drácula, embora ali tivesse sido um mero posto alfandegário onde ele passava algum tempo. Viveu sempre em Bucareste (Capital da Muntênia, hoje parte integrante da Romênia e ali se pode contemplar ainda as ruinas de sua residência voivodal (Sic transit mundi). Acha-se sepultado numa cidadezinha (Snagov), nos arredores da capital romena (Sic transit gloria mundi).
A imprensa internacional hodierna, dando prosseguimento à visão de Stoker noticiou, há pouco tempo, que "na sepultura de Vlad Tepes foram encontrados apenas ossos de cavalo!"
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