A generosidade faz parte das personalidades de muitos indivíduos que passaram pelo mundo praticando-a de formar desinteressada. Alguns nem sequer deram ouvidos à advertência pessimista do moralista francês Vauvernagues (1715-1747) que dizia: "As grandes generosidades produzem as grandes ingratidões". Este foi o caso do saudoso escritor e editor Paulo Duarte (1899-1984), um dos mais dedicados à cultura brasileira e ao respectivo aperfeiçoamento. Ele fazia o bem sem esperar a gratidão. Culto, excelente palestrador, além de muito dedicado à cultura francesa, Grande amigo do eminente antropólogo e etnólogo Paulo Rivet (1876-1958). Espírito bastante eclético e coerente no que se refere à teoria e prática de seu ideário filosófico, por exemplo, a sua pregação neohumanista apoiava-se nos postulados de aperfeiçoamento do homem brasileiro por meio da elevação de sua cultura e, para isso, resolveu fundar, em 1950, a sua excelente revista trimestral Anhembi (antigo nome, em tupi, do rio Tietê). Este periódico, apesar das suas dificuldades financeiras, teve vida longa, pois atingiu o número 144. Fui um dos seus assíduos leitores porque sempre a considerei um periódico de espírito aberto e muito estimulante, além de sua abrangência bastante ampla. Seu maior vetor era a prática dos ideais democráticos e neohumanistas.

Este órgão manteve-se fiel - em todo o seu percurso - ao ponto de partida, sem tergiversação nem retrocesso. Sua generosidade sem limite pode ser verificada, em diversos números nos quais se pode ler: "se um estudante pobre ou qualquer pessoa sem recursos, não estiver em condições de assiná-la, é só escrever-nos. Reservamos certo número de assinaturas com redução de 20% aos nossos leitores menos favorecidos. Agora se algum não puder assinar a revista nem nessas condições, mantemos a sua disposição um serviço de empréstimo do número do mês inteiramente grátis. Esse empréstimo pode estender-se a localidades do interior do Brasil".

Como se vê, trata-se de um caso inédito e inaudito no Brasil, um editor que vende, mas também empresta seu periódico aos que não podem assiná-lo. Não se encontra, na história de nossa cultura, algo similar!

Sou um incondicional admirador deste grande escritor e editor paulista, referência obrigatória em quaisquer estudos de história da cultura brasileira.