Os principais jornais da Suíça deste sábado fazem sérias críticas ao governo e à imprensa brasileiros no caso da advogada Paula Oliveira, que disse ter sido agredida por skinheads neonazistas em Zurique no início desta semana.
Para imprensa suíça, Oliveira sofreria de problemas psicológicos
Em um artigo opinativo, o diário conservador Neue Zürcher Zeitung, um dos jornais de maior prestígio na Europa, cita o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim e o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos Paulo Vannuchi, apontando que eles taxaram como "fato, de forma irrestrita, as declarações da brasileira".
O texto também diz que a imprensa brasileira "passou dos limites, indo especialmente longe no julgamento de supostos incidentes neonazistas e racistas na Suíça".
O Neue Zürcher Zeitung afirma que a imprensa brasileira teria criticado publicações suíças, inclusive o próprio jornal. O artigo comenta ainda que a mídia no Brasil traz regularmente "notícias de fatos totalmente inventados, acusações que já destruíram a vida de outras pessoas", além de afirmar que "a gravidez inventada, segundo se conta" seria artifício comum entre as brasileiras "para pressionar maridos e companheiros".
O artigo termina afirmando que os suíços se surpreenderiam "com o nível de xenofobia, neonazismo e anti-semitismo no Brasil". "O país tropical está, de acordo com sondagens internacionais, entre os Estados com maior índice de xenofobia: 72% são, segundo pesquisa, contra a recepção de estrangeiros", comenta o periódico.
CARANGUEJO
Outros periódicos suíços não pouparam expressões irônicas para criticar o governo brasileiro. O 20 Minuten, o jornal de maior tiragem da Suíça alemã e distribuído gratuitamente, traz um artigo intitulado "Lula da Silva 'caranguejeia para trás".
Nele, o jornal comenta as reações reticentes do governo brasileiro na sexta-feira, após surgir a notícia de que Paula Oliveira não estaria grávida, como ela havia alegado. O 20 Minuten lembra que no dia anterior, o governo brasileiro demonstrou indignação e deu declarações públicas nas quais cogitou mesmo recorrer à ONU para pressionar o governo suíço.
A mídia brasileira também foi alvo do jornal Tages-Anzeiger, na reportagem "Eles expuseram o Brasil ao ridículo". O diário reproduz comentários de leitores brasileiros publicados nos jornais nacionais após a reviravolta do caso, nos quais "atacam as reações precipitadas do presidente Lula e do ministro Amorim".
BORDERLINE
O mesmo jornal suíço também dedica outro artigo ao caso de Paula Oliveira, intitulado "A tragédia de O.: lenha para a sociedade borderline". Escrito por uma repórter da área de cultura, o texto classifica a história como uma "lição de manipulação da mídia", que demonstraria o interesse da sociedade "por personalidades portadoras de borderline".
A autora diz se tratar de um "caso evidente de uma mulher que utiliza o próprio corpo, de forma bastante consciente, para tornar uma suposta impotência em um chamariz para a mídia e, por consequência, em poder".
O texto afirma que ao se confirmarem as conclusões preliminares da investigação, a brasileira "deve ser diagnosticada como tendo um transtorno de personalidade borderline" e cita automutilação e necessidade de chamar a atenção como alguns dos sintomas deste tipo de transtorno.
O título do artigo se aproveita da inicial do sobrenome da brasileira e faz uma alusão implícita ao nome do romance A História de O, clássico erótico sobre uma mulher que se submete voluntariamente a práticas de tortura.
A maioria dos jornais também divulgaram entrevistas com psiquiatras e tratam o caso como um incidente com fortes indícios de ter sido causado por alguém com problemas psíquicos.
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