Às vezes, infelizmente, não se pode exercitar o otimismo devido às ações, aos fatos e até mesmo aos pensamentos que nos obrigam a enxergar a realidade como ela nos é apresentada e não como gostaríamos que ela fosse de outro modo. Posto isto, não é preciso ir muito longe: bastaria olharmos - com bons olhos de enxergar - para a situação desastrosa, caótica e insuficiente a que chegou o ensino no Brasil que foi minado em suas bases, isto é, criminosamente desmontado, tudo feito sob o apelo hipnotizador de uma única palavra : REFORMA! Jamais alguém poderia imaginar que a instrução (melhor termo do que educação) em nosso país - em termos gerais e com raras exceções - chegasse a tão lastimável estado quanto à tão almejada boa qualidade. Mas isto é assunto para outra minicrônica. Prefiro, hoje, chamar a atenção dos meus caros leitores para um mau exemplo que vem ocorrendo em nossas salas de aula, cujo resultado - mediato e imediato - não guarda o mínimo compromisso com a ética e a moral, dois valores indispensáveis no dia-a-dia de cada cidadão. Refiro-me, de modo muito especial, ao que geralmente se vem ensinando nas aulas de História do Brasil, cujos professores acreditam que estão fazendo um bem. Aliás, retomando o problemas das reformas (?) da instrução brasileira, fez-se um mal, invocando o bem, porque os seus resultados têm sido cada vez mais desalentadores.

Voltando à vaca fria: No ensino da história do Brasil, quando se pretende exaltar o bandeirismo, ou seja, a participação dos bandeirantes paulistas na expansão territorial da nação brasileira em sua acelerada marcha para o Oeste, apresenta-se a figura lendária de Bartolomeu Bueno da Silva (séc.XVII), o Anhanguera, termo geralmente traduzido por Diabo Velho, embora o saudoso pesquisador paraguaio Leon Cadogan tenha sugerido outra tradução: embaixador, mensageiro, enviado etc. ligada a "añengara"). Este cognone, segundo alguns autores, deve-se ao fato por ele haver deitado fogo a certa quantidade de álcool despejado numa bateia (ou talvez palangana), dizendo ter poderes para fazer o mesmo aos rios da região. Pretendia, com tal gesto astucioso, dominar os indígenas, os verdadeiros e legítimos donos daquelas terras e respectivas riquezas mediante o medo... Ora, o Anhanguera praticou, nada mais, nada menos, do que um verdadeiro dolo tão bem explicitado pelos juristas: "Toda espécie de artifício, engano ou manejo artificioso promovido por uma pessoa [ou mais de uma] com a intenção de induzir outrem à partir de um ato jurídico, em prejuízo deste em proveito próprio e de outrem" (cf. De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, 1984). A cadeia sinomínica de dolo é detestável e nada tem de edificante: fraude, astúcia, engano, trapaça, burla, falcatrua, chicana, cavilação, treta, alicantina, ladoeira, má fé etc.). No futuro - quem sabe? - Muitos de nossos alunos levarão de suas aulas esta má semente que poderá germinar, posteriormente, sob a forma da corrupção. Daí, a minha opinião pessoal de que jamais deveria ser ensinada está passagem histórica em nossas escolas porque, além de servir apenas para alimentar o triunfalismo desvairado dos dominadores, não convida, de forma alguma, os nossos alunos à pratica do bem, devido ao caráter amoral desse ensinamento. Em resumo: a instrução brasileira não precisa de mais "reformas", mas, antes de tudo, de uma urgente e profunda revisão crítica!