Encontrar o professor José Carlos de Almeida Cunha, de 77 anos, é aprender muito sobre o estudo da grafia. Autor do livro Grafologia, já em sua 10ª edição, ele começou a estudar em 1950, nos livros da biblioteca do pai, Roberto de Almeida Cunha, médico e também grafólogo. "O primeiro livro que comprei foi o do espanhol Augusto Vels Escritura x personalidad. Las bases científicas de la grafologia, de 1955." Enquanto cursava engenharia civil na Universidade de Minas Gerais, ele aprendia a importância dos sinais gráficos com o espanhol, que "foi meu conselheiro, orientador até 2000, quando morreu".
Foto:José Carlos começou a estudar os sinais gráficos em 1950
Em seu apartamento, no Bairro da Serra, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, José Carlos guarda como preciosidade toda a correspondência mantida com Vels: um cartão de Natal de 1999, inúmeras cartas enviadas por ele e respondidas pelo grafólogo espanhol e sente o maior orgulho de ter traduzido, pela Casa do Psicólogo, o Dicionário de grafologia e termos psicológicos afins, do mesmo autor. "Foi por intermédio das cartas de Vels que comecei a estudar grafologia", explica.
Para José Carlos, grafologia é a "identificação de sinais inconscientes que uma pessoa deixa impressos na folha de papel - a letra. Quando escrevemos, temos consciência do que estamos transmitindo, mas os movimentos que fazemos para traçar as letras são inconscientes. E o resultado desses comandos não conscientes é o que os especialistas interpretam. Três elementos indissociáveis são pesquisados: a forma, o movimento e o espaço. Não tem como separar o movimento do espaço. E a amplitude do movimento é regida pelas emoções. A forma é o único elemento consciente e é por isso que as pessoas escrevem de maneira corrida, cursiva, com letras grandes, miúdas, de forma, bonita ou caprichada".
Com régua, lupa e transferidor, ele reúne todos esses elementos e traça a personalidade de cada um. Cita o filósofo Kant para explicar que tudo o que está na alma é revelado pelos elementos visíveis. Por exemplo, quem está triste chora. O rir revela alegria e a escrita também decorre desses sinais visíveis - as letras -, que contrapõem emoção com vontade. "Toda afirmação sempre é feita com um movimento vertical. Um professor, quando afirma algo, bate na mesa e esse gesto é vertical. Já a emoção é revelada pelo movimento horizontal, amplo, como o gesto de abraçar e de agradecer."
Já formado em engenharia civil e depois em administração, José Carlos foi diretor de empresa e usou a grafologia para conhecer mais as pessoas que trabalhavam com ele, mas foi a partir de 2000 que se dedicou exclusivamente à especialidade. Há 15 anos atende uma empresa de informática para analisar a grafia dos candidatos a emprego. "Eles me enviam a entrevista e uma carta escrita pelo candidato e seleciono as características necessárias para o cargo. Faço uma descrição dessas características e envio para o profissional de recursos humanos, que toma a decisão de contratar ou não."
Ele considera a grafologia também um instrumento de diagnóstico que pode ser usado pelo psicólogo para orientação de adolescentes. "A interpretação da grafia identifica as potencialidades, o caminho a seguir por um jovem indeciso. Pode revelar distúrbios psiquiátricos e de comportamento. Dizer ainda se uma pessoa é distraída ou não sabe se concentrar grafologicamente." José Carlos observa que um bom exercício de concentração é usar sinais gráficos como ç, a barra do t em um conjunto de frases. A pessoa deve escrever essas frases colocando os sinais diariamente durante, pelo menos, quatro meses e vai melhorar a atenção. Essa atividade é chamada de grafoterapia, a terapia por meio do gesto gráfico.
Outra especialidade é a grafopatologia, que é capaz de captar sinais de enfermidade como Parkinson, Alzheimer e outros distúrbios somáticos e cognitivos. Responsável pela formação de mais de 500 grafólogos pelo Instituto Mineiro de Grafologia, ele pode afirmar: "O que está acabando com o hábito de escrever à mão não é o computador, mas o celular, que reduziu também a capacidade de conhecer o vernáculo, de usar as palavras adequadamente e de descrever uma ideia de maneira plena. Quando uma pessoa escreve está dando vazão a uma emoção e, hoje, esse elemento chamado telefone celular está inibindo e prejudicando a expressão emocional".
|