Nem sempre é interessante a história dos países de cultura surgente, pois nela deparamos uma série de valores negativos, destacando-se dentre alguns, a memória curta em relação a tudo aquilo que jamais deveria ser esquecido, por exemplo: nomes de personalidades, instituições, inventos, monumentos, enfim, referências que bem merecem a nossa eterna gratidão!
Hoje, para refrescar a memória dos caros leitores, vou trazer-lhes à baila o nome de um grande educador patrício, meu coestaduano, sempre digno de homenagens póstumas. Aqui vão o seu nome e resumo biográfico: Dr. Abílio César Borges (1824-1891). Nasceu em Minas do Rio de Contas, linda cidade da Chapada Diamantina Meridional (BA), originária do ciclo do ouro. Faleceu no Rio de Janeiro. Diplomado pela tradicional Faculdade de Medicina da Bahia. Clinicou no médio rio S. Francisco. Fundou colégios nos estados: Bahia, Minas e Rio de Janeiro.
Sua atuação de educador extraordinário chamou a atenção de Dom Pedro II, também iluminista, que o distinguiu com o titulo de Barão de Macaúbas. Deveria ser Barão do Rio de Contas, mas o agraciado mostrou o desejo de homenagear uma pessoa de Macaúbas que o alfabetizara, gesto que sensibilizou muito aquele monarca, pois, a gratidão em quaisquer circunstâncias é sempre louvável.
Ardoroso defensor da didática do amor, lutou muito para a eliminação dos castigos corporais em nosso sistema de instrução representados pelo uso da palmatória, e, para isto, a eliminou dos estabelecimentos por ele criados e administrados. Apesar desta louvável coerência, foi, injustamente retratado pelo seu ex-aluno Raul Pompéia (1863-1895).
O Ateneu (1888), publicado inicialmente em folhetins da Gazeta de Notícias (RJ). Apesar de intitulados Crônica de saudades, a obra é um repositório de ressentimentos extravasados sob a forma de rancor ou ódio. Jamais eu poderia imaginar que alguém pudesse sentir saudades daquilo que não lhe agradou. O romance é plasmado na primeira pessoa, cujo protagonista é Aristarco (= Barão de Macaúbas) diretor do Colégio, do qual Raul Pompéia fora aluno interno. Apesar de ser uma obra prima de nossa literatura, o autor usou a ironia, porém abusou do sarcasmo, que só a psicanálise talvez possa explicar. Romance difícil de ser classificado: Simbolista? Naturalista? Psicológico? Impressionista? De qualquer forma, é uma obra excelente, autêntico marco na novelística brasileira. Apesar de retratar tão negativamente a personalidade de seu antigo educador, vale a pena registrar, a fim de contrabalançar, que a história da pedagogia no Brasil coloca – e sempre colocou – o Barão de Macaúbas, graças ao seu pioneirismo e à sua práxis humanitária, acima de qualquer farpa ou equívoco!
Pobre Raul Pompéia! “Sempre foi um neurastênico, de temperamento esquisito, instável, desconfiado, ultra-sensível, introvertido” (cf. Enciclopédia da Literatura Brasileira de Afrânio Coutinho e Galante de Sousa). Ele se suicidou, numa noite de Natal, com um tiro no coração. Até hoje, não se conhece (m) o (s) motivo (s) daquele lamentável gesto! Dele o Brasil ainda muito esperava, apesar do muito que já havia produzido. Uma pena!
