Céu de abril, azul como todos os outonos, as matas em flor, no ar, uma brisa fresca à sombra do frondoso jequitibá. Na sua copa, o cantar festivo dos pássaros era melodia aos ouvidos dos passantes.
Vindo dos quintais e pomares das casas em volta, um cheiro de fruta madura. As redondezas enchiam-se de um verde escuro que se iniciava no fim da rua e perdia-se no horizonte: eram os imensos cafezais.
Um verdadeiro mar verde invadia a região desde as várzeas até lá no alto do espigão. Os pés de cafés encontravam-se com seus frutos em cereja, prontos para ser colhidos.
Por entre as ruas e carreadores de cafés, homens, mulheres e crianças iniciavam a colheita. Transportados ensacados em carroças puxadas por duas parelhas de burros, os grãos ainda em cereja eram colocados ao sol para secar nos terreiros. À entrada da pequena vila, no sentido de quem vem de Borboleta, uma grande figueira servia de pouso para a boiada.
O viajante, depois da curva da estrada, avista ao longe a torre da capela. Um pouco mais de uma vintena de casas, entre armazéns, máquinas de benefício de arroz e café, açougue, pequenos bares.
Um ponto de charretes embaixo dos pés de murta. No largo da capela, um coreto, e na esquina da praça uma loja amarela: Casas Pernambucanas. Aliás, toda vila que se prezasse, tinha que ter a sua.
Assim era a pequena vila de Nova Aliança no ano de 1938. Para orgulho de seus habitantes, a vila tinha um ilustre morador: o médico Lino Braile, casado com dona Maria Braile.
Italiano da Calábria, havia concluído, anos antes, a Faculdade de Medicina na bela Nápoles, tendo ao fundo o Vesúvio e banhada pelo Mediterrâneo. Suas praias de um azul intenso.
Para fugir da Segunda Guerra Mundial que se avizinhava, ele e a esposa embarcam no porto de Nápoles rumo ao Brasil, fixando residência na vila de Nova Aliança, hoje, sem o vila.
Dr. Lino, além de atender em casa, também era chamado para as urgências nas fazendas, e quase sempre o meio de transporte era o cavalo.
E foi neste ambiente bucólico, de uma vila de ruas descalças, de casas com belos jardins e cadeiras na calçada que nasceu Domingo Braile. Cresceu como todo menino de seu tempo, livre e solto pelos campos.
Cresceu ouvindo ópera e grandes clássicos, gosto herdado dos pais que, quando vindos da Itália trouxeram na bagagem também os discos. Gostava de todas as brincadeiras, menos o futebol, preferia estudar.
Estudou até o terceiro ano primário na terra natal depois seus pais acharam por bem, mudar-se para Rio Preto, cidade com mais recursos, pois o pequeno já demonstrava sua genialidade nas conversas com adultos. Preferia escutá-los à brincadeiras com crianças de sua idade.
Terminado os estudos secundários em Rio Preto, parte para São Paulo onde se forma na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em 62.
Tornou-se pioneiro da cirurgia cardíaca no hospital Santa Helena no ano de 63 em nossa cidade.
Seu gênio inventivo, seu amor pelo próximo, o impulsionaram a fazer sempre mais pelo seu semelhante. Criador do marcapasso externo e do estimulador esofágico para estudos da arritimia, que salvaram e salvam muitas vidas.
Dr. Domingo Braile, em nome da humanidade, agradeço-o de coração!
JOCELINO SOARES
Artista plástico e diretor da Casa de Cultura Dinorath do Valle, Rio Preto
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