Temos uma gama interessante de emissoras de rádio que migraram para a internet, porém há uma grande quantidade de conceitos e informações equivocadas sendo vendidas como verdades absolutas.
Quero ressaltar que não acredito em verdades supremas. Aquelas que nunca serão questionadas. Mas também não posso me deixar levar pela onda de estelionatários intelectuais que falam sobre temas que não conhecem.
Diante disso, quero levantar uma pequena polêmica sobre o uso de áudio na Internet. Entre as emissoras de rádio convencionais que migraram para a web temos as off line (aquelas que têm site, mas não transmitem áudio), as on line (aquelas que transmitem suas programações dentro da web) e temos as emissoras exclusivamente formatadas para a rede mundial de computadores. Nos três casos, há um ponto em comum: todas têm pessoas (mesmo que em equipes mínimas) pensando, formatando e tornando operacional a veiculação de conteúdos em áudio. Isso mesmo para as que existem enquanto rádios, mas preferem não veicular suas programações na web.
De outro lado, temos os canais de áudio, espaços baseados em serviços de transmissão em ordem aleatória realizados por um servidor em qualquer parte da internet. Porém, estes serviços que chamo particularmente de jukebox não podem ser confundidos com programações de rádio. Para que se tenha rádio, temos de ter um perfil de conteúdo muito específico, o qual o pesquisador espanhol Angel Faus Belau, denomina de "produto sonoro radiofônico", que fundamentalmente leva em conta a intencionalidade do emissor da mensagem (profissional de rádio).
Parece meio confuso ou acadêmico demais para você? Na base, a situação é simples: rádio é rádio e canal de áudio com uma máquina tocando músicas são duas coisas bem diferentes. Esta confusão foi criada a partir de grandes portais que denominam até hoje seus canais de música, onde você pode "escolher" o que quer ouvir como rádio.
Esta é mais uma forma de enganar o usuário dando um nome conhecido a um serviço inicialmente sem denominação. Até porque isso tornou mais fácil de vender os conceitos para os ouvintes.
Levanto estes questionamentos para lembrar as emissoras de rádio que atuam no mercado com eficácia de que podem e devem abrir mais canais para a transmissão de programações focadas em públicos diferenciados. Porém, todos estes novos canais devem ser projetados, produzidos e veiculados como emissoras independentes. Caso contrário, você estará apenas diluindo sua audiência entre os canais que criar.
Além disso, insisto em que cada nova emissora tenha sua própria linguagem, sua estrutura técnica e até, se possível, uma equipe diferenciada, mesmo que pequena, mas absolutamente dedicada.
O motivo é simples: é uma nova emissora focada em um novo público que deverá ser atendido com todas as ferramentas multimídia que a plataforma da web proporcione. Não dá para apenas colocarmos um canal de áudio no ar tocando estilos musicais diferentes sem que os usuários possam ser atendidos em suas necessidades. Além do que, temos uma lista enorme de canais, no melhor estilo "vitrolão", tocando de tudo na Internet. Fica cada vez mais difícil diferenciar uma emissora de outra, mesmo dentro dos nichos.
Ou seja, se você pretende abrir novas emissoras na web, faça com competência e bom senso. Não tente ser esperto ao pensar que só você irá ganhar dinheiro com isso. Muitos estão tentando, mas poucos conseguem sobreviver com estas emissoras na rede.
Não estou menosprezando a competência dos profissionais brasileiros, mas acredito que se não tivermos conteúdos inteligentes e bem focados nos nichos de mercado, teremos um retorno baixo, pois será apenas mais um penduricalho na pasta do seu contato publicitário e não uma emissora com seu diferencial de público.
DICA DE LIVRO
O rádio brasileiro é marcado por uma série de bons exemplos de programas populares. Em "Histórias de Ouvintes - A audiência popular no rádio", da Univali editora, Jairo Grisa faz uma pesquisa sobre a relação entre o meio radiofônico e nove mulheres ouvintes de uma emissora popular de Porto Alegre. A pesquisa rendeu ao autor o Prêmio Intercom 2000 como melhor dissertação de mestrado na categoria Rádio e Televisão. A leitura vale principalmente para os profissionais que buscam entender como se dá a participação do rádio dentro das vidas dos ouvintes. Levando-se em consideração que atualmente poucos profissionais sabem o perfil de seus ouvintes e qual o impacto de seus trabalhos no cotidiano deles, acredito que seja uma obra de referência para os que querem aprender sobre rádio popular.
Prof. Alvaro Bufarah, jornalista, especialista em política internacional, mestre e pesquisador sobre rádio. Coordenador da Pós-Graduação em Produção e Gestão Executiva em Rádio e Áudio Digital da FAAP.
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